Acredita-se que os petiscos tenham surgido na Grécia Antiga como coadjuvante da bebida para amenizar o teor alcoólico. Ao longo dos tempos, o hábito transformou-se em uma cultura mundial, e as pequenas porções gastronômicas tornaram-se uma grande atração em bares e botecos.
A chef de cozinha, historiadora, professora de gastronomia e pesquisadora Uerisleda Moreira endossa esse pedaço da história gastronômica do 'tira gosto' ou petisco, que nasceu "desde o período da Antiguidade, cerca de 480 a.C".
"Você já tinha ali a realização dos simpósios, que eram reuniões, predominantemente de homens, pós banquetes, onde eles conversavam. Era um momento de reunião, onde alimentava-se o corpo com quitutes, e os petiscos, a bebida e a alma através das discussões. Nesses espaços de simpósio, já eram servidas essas pequenas porções, pequenas refeições, como frutas secas, frutas frescas, azeitonas, oleaginosas, como nozes", explica a professora.
Ou seja, já era observado à época um importante fator social que a comidinha tão querida, entre um gole e outro da prazerosa bebida, era capaz de gerar.
“A partilha de alimentos e bebidas é um fenômeno sociológico. E essa prática de comer e beber juntos é um fenômeno que gera integração, laços de pertencimento. Partilhar o alimento tem uma força socializadora muito grande, e o consumo de petiscos traz um pouco disso, porque, em geral, são porções que as pessoas dividem”, afirma Uerisleda.
É muito fácil conferir esse importante fenômeno sociológico praticamente em cada esquina de Salvador e quando chega o verão, a coisa parece se multiplicar! Os petiscos se transformam em grande atração.. Os comensais em volta de uma mesa a brindar a vida com falas em meio aos risos, entre um gole e outro, uma petiscada e outra, acompanhando toda a evolução dessas iguarias em pequenas porções, das mais tradicionais àquelas consideradas gourmets, conceito mais atual.
E por falar em iguarias clássicas, a passarinha diretamente dos tabuleiros das baianas para os botecos e bares onde permanece até hoje, tripa e pititinga fritas, o clássico filé com fritas, e os deliciosos caranguejo e lambreta, servidos em caldos maravilhosos são grandes e inesquecíveis clássicos servidos em muitos bares e botecos até hoje!
No clássico Bar do Chico (@bardochicostiep), na Barra, fundado em 1969 por dona Ubaldina Cabral, há 56 anos, completados este ano, são servidos os petiscos mais tradicionais que os baianos e turistas têm em suas mais agradáveis memórias: o caranguejo e a lambreta, envolvidos no caldo de tempero de cebolas e coentros, sempre acompanhados por uma cervejinha. A neta de Dona Ubaldina, Lais Maia, conta com orgulho que a tradição foi passada para ela, atualmente à frente do negócio com os sócios. A coisa da tradição é tão séria que até hoje eles conservam a mesma cozinheira e as mesmas receitas, fazendo a alegria dos antigos clientes.
"A gente permanece com a mesma receita desde a época dela. A gente trabalha da mesma forma. E é desse jeito que o Bar do Chico mantém essa essência. É trabalhando com os mesmos insumos, com o mesmo material, com os mesmos fornecedores há muitos anos", conta.
O Bar do Chico está entre muitos dos “aperitivos” que Salvador oferece no verão baiano, quando a vontade de se reunir em “simpósios” aumenta aos olhos e paladares. As reuniões multiplicam-se com a chegada dos curiosos turistas, que ainda têm a sorte de participar do fenômeno atual da gastronomia, estimulando a inventividade dos chefs, cada vez mais criativos na elaboração dos petiscos da era gourmet.
Adson Moura, do bar Recando do Moura (@recantodomoura), em São Caetano, com 20 anos de boteco, faz parte da era dos petiscos que vem acompanhando uma evolução natural da gastronomia. Adson servia purê de aipim de uma forma simples, mas, antenado e sempre à procura do inusitado, um dia deparou-se com uma telha e teve ideias!
“Estava andando pela San Martin e minha moto interrompeu logo em frente a uma casa que vende telhas de cerâmica. Foi fundamental, um divisor de águas. Então, o prato virou Laricão: pirão de aipim, carne do sol, batata e camarão. Ficou inusitado e, graças a Deus, a gente brinca com a criatividade, temos que sair da caixinha”, conta, O Laricão de Adson é o carro-chefe do Recanto.
Outra empreendedora e chef de cozinha que busca estar antenada é Deliene Mota, do Bar e Restaurante Encanto da Maré Conceito (@encantodamare), que está programando um verão para lá de animado e cheio de gostosuras, com um pôr do sol para arrasar no cenário.
"Vamos ter o Projeto Verão toda sexta e todo sábado, pôr do sol, muita música, muita comida gostosa e novidades no cardápio, além das delícias que já temos. O Camarão Empanado, Casquinha de Lagosta, que estou apostando muito, um petisco novo, bem leve e delicioso, e referências do Recôncavo Baiano que serão inseridas no restaurante", conta bem animada.
Uerisleda notou essas novas tendências gastronômicas, como o casquinha de lagosta do Recanto, bem como o Laricão do Moura, pratos mais elaborados, seja em bares ou botecos. Ela ressalta que, no fim, o objetivo é o mesmo.
“A gente tem botecos que já trazem outra proposta de cardápios mais elaborados. Hoje, observamos um movimento dentro dessa categoria de boteco, onde podem ser encontrados espaços gastronômicos diferentes, com propostas de menu que, às vezes, são um pouco diversificadas, mas o objetivo final do espaço é o mesmo: um local de socialização, onde as pessoas estão ali para compartilhar a vida, o alimento e a bebida que estão postos à mesa", finaliza.
Para atiçar nossos sensíveis sentidos com a maior expectativa para o verão baiano, o Recanto do Moura será o bar responsável por nos oferecer, neste fim de semana, proposta de receita inventiva e saborosa, celebrando a nova Eestação. Um prato bem elaborado, servido na telha: o Laricão.
Laricão-Ingredientes
- 500g aipim
- 300g batata frita
- 150g carne do sol frita
- 1 colher de ( sopa) margarina
- 2 colheres de ( chá) creme de leite
- 50g de mussarela
- 1 colher de (sopa) queijo parmesão ralado
Modo de preparo do pirão: Cozinhe o aipim por 30 minutos com um pouco de sal. Quando esfriar, bata no liquidificador com a água do cozimento. Na mesma água, adicione 1 colher de sopa de margarina, 2 colheres de sopa de creme de leite, 1 colher de queijo parmesão ralado e 20 g de mussarela ralada. O objetivo é dar liga e textura ao pirão. Reserve. Frite o camarão e a carne em frigideiras separadas com um fio de azeite, entre 5 a 6 minutos. Frite a batata em uma panela com óleo ou azeite. .Vá colocando aos poucos na frigideira, em fogo médio, até dourar. Para finalizar, basta montar os ingredientes na telha!
Isabel Oliveira.
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