Jornalista Isabel Oliveira: Nanica, prata, maçã, terra: não importa o tipo, a banana é uma das frutas mais queridas, populares e desejadas no mundo inteiro, além de ser responsável por uma diversidade incrível de pratos doces e salgados. Hoje, a coluna Histórias & Sabores fala desta deliciosa fruta e aproveita para conversar sobre um doce saboroso da contemporaneidade: o banoffee, sobremesa criada nos anos 1970, mas que vem se popularizando em todo o mundo. A receita é meio trabalhosa, mas prometo que é deliciosa!
Quem não conhece a célebre e popular música do compositor brasileiro Braguinha, “Yes, nós temos bananas”, composta no fim dos anos 1930? A música foi criada como uma sátira que tem por objetivo rebater a imagem que o Brasil tinha, pelo menos à época, como um país exótico e superficial. Tá bom que algumas gerações podem nem saber do que se trata, mas o som está gravado na história cultural brasileira.
Essa imagem pode ter sido reforçada por uma famosa cena de Carmen Miranda, no cenário americano dos anos 1940. A artista brasileira se apresentava com um exuberante adereço na cabeça, repleto de bananas. A cena ficou gravada no imaginário popular, reforçando a ideia do Brasil como um país apenas de praias, carnaval e samba, de uma forma pejorativa.
A professora de gastronomia da Ufba, Euzélia Lima Souza, lembra do movimento do tropicalismo, que rompeu com a estética de um Brasil considerado apenas exótico. O movimento surgiu como uma resposta crítica a essas representações de um Brasil estereotipado.
“[...] Em 1960, houve o movimento cultural tropicalista que, de maneira crítica e inovadora, rompendo com as convenções da época, se apropriou da imagem típica do Brasil tropical, com a banana e as frutas, para subverter suas estéticas e significados. Enquanto Carmen Miranda representava uma visão alegre e exótica do Brasil, o tropicalismo usava esse mesmo símbolo para criticar a ideia do país como um mero local exótico para o resto do mundo. A banana, nesse contexto, tornou-se um símbolo irônico e provocativo”, explica Euzélia.
Sátiras à parte, a banana até hoje representa não apenas a tropicalidade brasileira, uma vez que a fruta, querida entre os brasileiros, vai muito além de um alimento. Ela está entranhada no nosso DNA como um símbolo de cultura e expressão popular, sendo citada em muitas expressões, seja na música ou na arte em geral.
“A banana aparece em diversas manifestações culturais, como música e literatura popular. Lá, ela também é um prato do imaginário coletivo brasileiro, refletindo a ligação entre o Brasil, o rural, o agrícola e suas tradições alimentares”, relata Euzélia.
Se a fruta ficou fixada no imaginário popular de forma icônica, ela também tem grande representatividade na economia brasileira, sendo um dos principais produtos consumidos no Brasil, além de ser um dos principais produtos de exportação.
A versatilidade da banana é estupenda! Banana prata, nanica, maçã, banana-da-terra, e a linda banana São Tomé são alguns grandes exemplos de diversidade de bananas encontradas neste mundo tropical brasileiro. Além dos tipos variados, a melhor parte: a banana é simplesmente uma das frutas mais desejadas no mundo gastronômico e, neste campo fértil, é responsável por uma diversidade incrível de pratos, dos básicos aos mais sofisticados; dos simples aos mais criativos.
Neyse Lobo, diretora comercial da Disk Bananas, uma fornecedora da fruta em Salvador, chama atenção para a média de consumo da marca registrada do Brasil.
“A banana é a fruta mais consumida no Brasil, e isso se dá pela sua versatilidade, praticidade, sabor e riqueza nutricional. Existe um estudo que fala que a média de consumo do brasileiro por ano é de 27 quilos dessa fruta. A banana está presente na casa de todos os brasileiros”, afirma.
Ela também conta novidades sobre os tipos de banana que os moradores da capital baiana adoram consumir.
“As principais bananas consumidas aqui em Salvador e região são as bananas prata e da terra. A prata é muito produzida aqui na Bahia por causa do clima. Ela é rica em carboidrato e fornece energia rápida e sustentável ao corpo, por isso é essencial na rotina de quem pratica atividade física. É um lanche saudável e energético, então precisa estar na alimentação de todo mundo que pratica atividade”, esclarece.
Neisy também conta que o baiano ama uma banana nanica, e esclarece que nanica é somente no nome, pois esse tipo é maior que a banana prata. O pé da banana nanica pode produzir até 400 bananas, pesando mais de 40 quilos.
“Ela é chamada de nanica por conta do tamanho do pé que a produz, um pé baixinho. Ela também é conhecida como d’água ou caturra em outros estados. Essa é uma banana que o pessoal utiliza muito para sobremesa, bolo, e receitas, pelo menos aqui em Salvador. Em outros estados, ela é a banana principal, como a prata é aqui para nós. A nanica é usada para fazer o banoffee”, relata.
O banoffee é um doce de origem britânica, cuja invenção se espalhou pelo mundo afora. Ele foi criado nos anos 1970 e seu nome é uma deliciosa combinação das palavras banana e toffee, principais ingredientes da sobremesa. Ela é uma torta que tem por base um biscoito. Na sequência, leva uma camada de doce de leite, o toffee, e fatias de banana. Por último, chantilly. A receita é finalizada com algumas pitadas de chocolate ou café.
Conta a história da gastronomia, que, inicialmente, o banoffee foi uma adaptação de uma receita americana de uma torta de caramelo e café, mas o chef Ian Dowding e o proprietário do restaurante The Hungry Monk, Nigel Mackenzie, em East Sussex, na Inglaterra, adicionaram bananas, inventando o doce que se transformou em uma febre no mundo inteiro, na atualidade.
Juliete Cortez, sócia da Nanica (@nanicabrasil), confeitaria especializada no delicioso doce banoffee, em Salvador, conta que a banana nanica é a preferida para montar a sobremesa maravilhosa.
“A banana é uma das partes mais importantes e sensíveis da receita. Ela é uma fruta que exige cuidado antes de ser escolhida e usada, pois pode escurecer, por exemplo. Por isso, usamos a banana nanica, que tem propriedades muito boas para a produção de doces, porque é mais doce e suculenta. Além disso, tem coloração mais amarela, ficando mais bonita na apresentação, e polpa macia, permitindo que cada garfada do banoffee tenha uma parte da fruta", afirma.
A receita se popularizou rapidamente pelo Brasil pelas mãos da empresa Nanica, criada em 2018.
“Acredito que posso dizer que somos um dos principais responsáveis por essa popularização, já que a rede investe muito para espalhar o Nanica pelo Brasil, garantindo que não se limite apenas aos grandes centros, como São Paulo, mas chegue a todos os cantos do país.”
Vamos aproveitar o nosso verão tropical que está por vir para fazer o maravilhoso banoffee. A receita dá um bocadinho de trabalho, mas vale muito degustar esta delícia, a cara da primavera e e verão brasileiros!
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