Informa o jornal O Globo:
- Um dos maiores nomes do Cartum Brasileiro, Paulo Caruso morreu neste sábado (4 de março de 2023), aos 73 anos, em São Paulo-SP. O chargista lutava contra um Câncer.
Paulo José de Hespanha Caruso, nasceu em São Paulo, em seis de dezembro de 1949. Era irmão gêmeo de Chico Caruso, que assina as Charges da primeira página de O Globo há 38 anos. Paulistano, formou-se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), em 1976, mas não seguiu a carreira de Arquiteto.
Nos anos 1960, já havia iniciado a carreira de Chargista no Diário Popular. Na década seguinte, colaborou com o Semanário de Humor "O Pasquim", ícone da resistência à censura durante a ditadura militar, em um time que incluía a nata do cartum brasileiro, com nomes como:
- Ziraldo.
- Jaguar.
- Henfil.
- Millôr Fernandes.
- Fortuna.
- Reinaldo Figueiredo.
Em 1981, na Revista Careta, inaugurou com Alex Solnik a página de humor Bar Brasil, que posteriormente migrou para a revista Senhor. Em 1988, passa a publicar a coluna de humor "Avenida Brasil" na Revista Isto É, em que permaneceu até 2006. Neste ano, passou a publicar a página na Revista "Domingo", do Jornal do Brasil. Em 2015, foi para a revista Época. Paulo Caruso também colaborou em veículos como o jornal Folha de S. Paulo e a revista Veja, e publicações especializadas em humor, como Circo, Chiclete com Banana, Geraldão e Pasquim 21.
Cartunista e Chargista Paulo Caruso (foto Divulgação/Paulo Garcez)
Com a verve Política afiada em seus desenhos, Paulo notabilizou-se também por fazer Charges ao vivo durante as entrevistas do Programa "Roda Viva", desde a estreia da atração, em 1986, na TV Cultura (SP). As Charges, tanto dos entrevistados no centro da roda quanto dos entrevistadores na bancada, acompanhadas das frases mais emblemáticas ditas por eles, viraram uma das principais marcas do Programa.
Numa entrevista ao “Roda Viva” em 2013 com Chico, Paulo falou sobre como lidava com a autocensura na hora de fazer os desenhos no programa:
- A gente viveu uma censura que era imposta de cima para baixo. Depois da abertura, existe uma questão que é a autocensura. Passei por algumas situações assim aqui no "Roda viva". Por exemplo, numa entrevista em que o Jô (Soares) contou que a mãe foi atropelada por um táxi, e percebi que fazer aquele desenho seria como brincar com a dor do outro", comentou Paulo.
- Acho que você deve trabalhar sim com alguma restrição, algumas ideias não devem vir à luz".
Em paralelo, Paulo dedicou-se à música com o irmão, em espetáculos nos quais a dupla criava paródias envolvendo situações e personagens da política nacional. Em 1985, estreou no Salão Internacional de Humor de Piracicaba a banda Muda Brasil Tancredo Jazz Band, que contou com a participação de outros cartunistas e escritores/músicos, como Luis Fernando Verissimo, Cláudio Paiva e Aroeira. Ao lado do irmão gêmeo, além de apresentações ao vivo, gravou discos como "Pra seu governo" (1998), "E la nave va" (2001) e "30 anos de democracia - Que país é este?" (2015).
Sobre o início da prática nas Artes, Chico declarou ao Globo que ele e Paulo tiveram forte influência da família:
- Meu avô materno, que era pintor amador, sempre foi estimulante pra gente. E também tinha o seguinte. Havia a crendice que um dos filhos gêmeos morreria cedo. Então, para a gente não sair de casa, minha mãe dava papel e lápis pra mim e pro Paulo, e nós desenhávamos o dia inteiro. Tanto que eu e meu irmão somos um fiasco em tudo o que é de rua. Jogamos bola muito mal", contou Chico.
Entre os livros publicados, estão:
- "As origens do Capitão Bandeira" (1983).
- "Ecos do Ipiranga" (1984).
- "Bar Brasil" (1985).
- "Bar Brasil na Nova República" (1986).
- A partir de 1989, reúne as Charges de Avenida Brasil numa série de livros, que inclui:
- "A Transição pela Via das Dúvidas" (1989).
- "A Sucessão Está nas Ruas (1990).
- "O Bonde da História" (1991).
- "Assim Caminha a Modernidade" (1992).
- "Se Meu Fusca Falasse" (1993).
- "O Circo do Poder (1994).
- "O Conjunto Nacional" (1996).
- "Se Meu Rolls-Royce Falasse" (2006).
- "Enfim Um País Sério" (Devir, 2010).
Em 2004 publicou "São Paulo Por Paulo Caruso - Um Olhar Bem-Humorado Sobre esta Cidade", em homenagem aos 450 anos da capital paulista, pelo qual recebeu o Trófeu HQ Mix, no ano seguinte (2005).
Como ilustrador, participou de livros como:
- "Contos de Pânico" (2004).
- "A Cidade e Suas Histórias" (2005).
- "Gol e Orgasmo (2010).
- "Diário de Um Magro" (2011).
- "Histórias de Humor Para Quem Está de Bem com a Vida: Ou Quer ficar" (2011).
- "A Declaração dos Direitos Humanos: 30 Artigos Ilustrados por 30 artistas" (2014).
- "Memórias Embaralhadas: Damas de Espada e Valetes de Ouro" (2016).
Bolsonaro pelo traço de Chico Caruso: uma retrospectiva bem-humorada e crítica dos quatro anos de Governo
Em 1991, expôs no Museu de Arte de São Paulo (Masp), com Chico Caruso, sendo premiado, no mesmo ano, pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) na categoria melhor desenhista. Em 1997, também foi premiado no Salão Carioca de Humor da Casa de Cultura Laura Alvim e no Salão Internacional do Desenho de Imprensa, em Porto Alegre.
Em agosto de 1991, o Engenho Central de Piracicaba (SP) recebeu a Mostra "Na Roda com Paulo Caruso", com 40 Charges e Caricaturas do cartunista produzidas nos mais de 35 anos do Programa “Roda Viva”. A exposição, em cartaz até 30 de outubro, integra a programação do 49ª Salão Internacional de Humor de Piracicaba.
Além do irmão, Paulo Caruso deixa o filho, o diretor de videoclipes, filmes e programas de TV Paulinho Caruso (de "TOC: Transtornada obsessiva compulsiva", comédia estrelada por Tatá Werneck).
Com informações de O Globo, onde Paulo Caruso publicou milhares de Charges em 38 anos nas capas de O Globo.
- Ministra do Planejamento, Simone Tebet - Com pinceladas rápidas, Caruso retratava, com inteligência ímpar, ironia e humor, os acontecimentos do Brasil há mais de 4 décadas. A indignação, alegria ou tristeza registrada, agora entram pra História. Guardo sua arte com carinho".
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Paulo Caruso foi um grande desenhista e cronista político, com uma criatividade inesgotável, retratou com talento e consciência o dia-a-dia que constrói nossa história recente. O seu traço veloz e seu humor já são parte da memória nacional. Contribuiu com seu talento na luta pela democracia e por um país com direito à liberdade de expressão. Meus sentimentos ao seu irmão, Chico, aos seus familiares, amigos e admiradores".
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