Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realizou nesta quinta-feira (16) e sexta-feira (17 de setembro), o 1º Encontro de Parlamentares Católicos a Serviço do Povo Brasileiro.
Para o presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, trata-se de uma iniciativa que busca o diálogo, para que parlamentares digam o que esperam da Igreja e “se deixem interpelar ao ouvir o que a Igreja também deles espera”.
O deputado estadual Walter Cavalcante (MDB-Ceará) e o vereador Jorge Pinheiro (PSDB-Fortaleza) foram os dois parlamentares cearenses convidado para o evento.
Este encontro, disse dom Walmor Azevedo:
- É uma aposta na eficácia do diálogo como instrumento de construção de entendimentos e respostas novas na reconstrução da sociedade brasileira nos trilhos da Justiça e da Paz à luz dos valores e princípios do Evangelho de Jesus Cristo”.
O encontro contou com a participação de 80 parlamentares, entre vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores. Entre os participantes:
- Senador Antônio Anastasia (PSD-MG).
- Senadora Zenaide Maia (Pros-RN).
- Deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP).
- Deputado federal Francisco Júnior (PSD-GO).
- Deputada federal Angela Amin (PP-SC).
- Deputado estadual Reinaldo Alguz (PV-SP).
- Deputado estadual Walter Cavalcante (MDB-CE).
- Vereador Jorge Pinheiro (PSDB-Fortaleza).
Participaram da abertura do evento:
- Núncio apostólico no Brasil, dom Giambattista Diquattro.
- Presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Dom Giambattista Diquattro - O núncio apostólico dom Giambattista Diquattro transmitiu aos participantes a saudação e bênção do papa Francisco. Disse que atualmente é preciso “cada vez mais de fraternidade e amor para promover a integração entre os homens” e que a variedade étnica, espiritual e cultural do Brasil “corrobora para o seu compromisso com a paz e a superação dos conflitos”.
- O Brasil se destaca pela sua solidariedade que ultrapassa as suas fronteiras e por sua história marcada indelevelmente pela fé. Oxalá esta ajude a alimentar de modo tão natural propósitos e sentimentos de amor, de ordem e de progresso”, afirmou dom Giambattista Diquattro.
Rodrigo Pacheco - Em seu discurso, o senador Rodrigo Pacheco afirmou que, com este encontro:
- A CNBB irmana-se com os que veem na democracia a única saída viável para a crise brasileira, bem como reafirma seu compromisso com a defesa intransigente dos mais pobres, dos que mais precisam de uma nova política, dos que mais carecem de uma política melhor”.
Pacheco falou sobre a necessidade de “superação definitiva de impasses institucionais que tanto prejudicam e paralisam o País”.
Segundo o presidente do Congresso Naciona, para isso é preciso “uma nova Política, uma Política melhor, nos termos da encíclica Fratelli tutti”.
- Urge, em primeiro lugar, recolocar a política a serviço do bem comum. Isso implica não apenas atender as ora ainda negligenciadas necessidades básicas dos vulneráveis e desfavorecidos, mas também submeter de forma irrestrita o pensar e o agir político nos valores da fraternidade, da solidariedade e da justiça social”, afirmou Rodrigo Pacheco.
Maria Clara Lucchetti Bingemer - A coordenadora da Cátedra Carlo Maria Martini e professora titular do Departamento de Teologia da Pontificia Universidade Católica-PUC-Rio, teóloga Maria Clara Lucchetti Bingemer (foto), refletiu sobre o que o papa Francisco definiu como a “Política Melhor”, em sua Encíclica Fratelli Tutti, com os 80 parlamentares brasileiros, de diferentes partidos políticos e níveis de atuação, que participam do 1º Encontro de Parlamentares Católicos a Serviço do Povo Brasileiro.
Antes de entrar na definição da “Política Melhor” apontada pelo Santo Padre, a decana destacou pontos sobre o diagnóstico do estado da “fraternidade” no mundo descrito na Encíclica.
Entre eles, o fato de que a globalização conectou as pessoas mas não ajudou a superar o individualismo e o de que a sociedade hoje é marcada pelo consumo e pela eliminação dos que são descartáveis, como os pequeninos (idosos, pessoas com deficiência, entre outros).
De acordo com a professora, na Encíclica, o papa Francisco reconhece o avanço em marcos legais sobre os Direitos Humanos e Assistência Social mas em contrapartida aponta que ainda convivemos com as aberrações como racismo e as desigualdades, fenômenos que demonstram que as discriminações ainda estão muito vivas na forma como se organiza a sociedade.
Maria Clara destacou a análise oferecida pelo papa Francisco, na Fratelli Tutti de que as redes sociais conectaram a todos mas não foram capazes de gerar relacionamentos verdadeiros, mas ao contrário estão promovendo mais isolamento, estimulando o ódio por meio de notícias falsas.
- A conexão das Redes Sociais não tem construído pontes”, disse Maria Clara Lucchetti Bingemer.
O papa Francisco, apontou a professora da PUC Rio, chama a atenção em seus escritos que estamos vivendo uma crise do nós e do comunitário com a persistência de vários conflitos e com o fim das utopias. A Pandemia exarcebou ainda mais os problemas criados pela humanidade.
Frente a este diagnóstico, a professora destacou que o papa aponta na Fratelli Tutti que a “melhor Política” deve trabalhar no sentido da construção do bem comum pensando nas gerações presentes e futuras numa perspectiva da generosidade.
- A terra, os recursos naturais e as instituições são legados que recebemos e dos quais devemos cuidar e aprimorar para as gerações seguintes. Isto supõe uma relação intergeracional, tendo a ecologia e a fraternidade intrinsecamente interligadas”, disse a professora em destaque à reflexão proposta pelo papa Francisco.
O trabalho como forma de realização da dignidade humana também é apontado pelo papa como um caminho que a melhor política deve buscar.
- O papa crítica inclusive a perspectiva assistencialista de ajudar os pobres com dinheiro. O objetivo deve ser ajudar as pessoas a conquistar uma vida digna por meio da sua participação criativa no trabalho. A pior pobreza apontada pelo Santo Padre é aquela privada do trabalho e da dignidade que ele confere”, apontou a professora Maria Clara Bingemer.
A professora ressaltou a ideia, apontada na Encíclica, de que a caridade é a forma mais alta da caridade e esta deve se expressar em duas dimensões social e institucional. Ela apontou também que o documento defende que a política não pode se submeter à economia, à busca pelo poder e à corrupção.
- A Economia sozinha é incapaz de resolver os problemas da humanidade’, disse Maria Clara Lucchetti Bingemer.
Maria Clara afirmou que o papa Francisco busca em sua carta a defesa de que é necessário passar, nas relações pessoais, de uma lógica do sócios e ou da competição para a lógica do irmãos e da gratuidade e que esta relação deve ser buscada em esferas sociais e políticas mais amplas.
- Isto supõe superar uma lógica que enxerga o outro e a outra sempre como ameaça para uma nova ordem política e social cuja alma é a caridade”, frisou.
Outro aspecto destacado da Encíclica foi a que a boa política busca integrar os diferentes e convergir para questões comuns por meio do diálogo.
- O papa defende a ideia do poliedro e a cultura do encontro e do intercâmbio de ideias tendo em vista o bem comum e isto não significa a eliminação da riqueza da diversidade e dos diferentes pontos de vista que devem coexistir”, apontou Maria Clara Lucchetti Bingemer.
A prioridade da melhor Política deve ser os pequeninos e pobres, disse a professora, com os quais os políticos devem se comover e deixar-se arrebatar.
- Neste sentido, aponta o papa Francisco, na Encíclica Fratelli Tutti ser necessário promover a participação em todos os níveis e a incorporação dos pobres e excluídos, reconhecendo que recomeçar a reconstrução da fraternidade precisa se um processo feito debaixo para cima”, concluiu Maria Clara Lucchetti Bingemer.
Após a reflexão da professora Maria Clara seguiu-se às reações de cerca de 20 parlamentares, das quais destacamos duas:
Senador Antônio Anastasia (PSD-MG) - É muito importante lembrar sempre de uma mensagem importante que o Papa Francisco no Sínodo para a Amazônia de que a sociedade tem que respeitar os modos de vida a a cultura dos povos indígenas. O que estamos vendo no Brasil é um desmantelamento dos direitos dos povos indígenas e tradicionais. Temos sido constantemente ameaçados pela violência em nossos territórios e direitos, à medida que não avança o direito da demarcação de nossas terras assegurado pela Constituição de 1988. Seguimos juntos nesta luta. Saúdo aqui o dom Mário Antônio da Silva, bispo de Roraima”.
Deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR) - É muito importante lembrar sempre de uma mensagem importante que o Papa Francisco no Sínodo para a Amazônia de que a sociedade tem que respeitar os modos de vida a a cultura dos povos indígenas. O que estamos vendo no Brasil é um desmantelamento dos direitos dos povos indígenas e tradicionais. Temos sido constantemente ameaçados pela violência em nossos territórios e direitos, à medida que não avança o direito da demarcação de nossas terras assegurado pela Constituição de 1988. Seguimos juntos nesta luta. Saúdo aqui o dom Mário Antônio da Silva, bispo de Roraima”.
SEGUNDO DIA - A parte central do segundo dia do 1º Encontro de Parlamentares Católicos a Serviço do Povo Brasileiro, na sexta-feira (17 de setembro), foi dedicada ao painel “Testemunhos em Diálogo”, no qual, de forma intercalada, nove políticos previamente escolhidos apresentaram o que o parlamentares católicos esperam da Igreja no exercício de sua missão e nove bispos e arcebispos responderam à pergunta: “O que a Igreja espera dos parlamentares católicos no exercício de sua missão?”.
Neste momento coordenado pelo moderador do dia, o bispo de Roraima (RR) e segundo-vice presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Mário Antônio da Silva, cada um teve um tempo de cinco minutos de fala.
Para efeitos didáticos, as respostas foram organizadas a partir da pergunta considerando a ordem de fala dos prelados. Confira as falas de nove bispos e arcebispos que responderam à pergunta:
- O que a Igreja espera dos parlamentares católicos no exercício de sua missão?”.
Dom Odilo Cherer - O arcebispo de São Paulo e primeiro vice-presidente do Conselho Episcopal Latinoamericano (Celam), cardeal Odilo Cherer, primeiro a falar, deu ênfase a aspectos ligados à moralidade de pessoas que atuam na esfera pública cuja missão deve ser atuar em favor do bem comum.
- Que sejam bons políticos no sentido de buscar ser coerentes nas opções pautadas pela honestidade e pela ética nas ações”, afirmou dom Odilo Cherer.
Dom Ricardo Hoepers - O bispo de Rio Grande (RS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Família da CNBB, dom Ricardo Hoepers, ressaltou que na Sagrada Escritura, no magistério da Igreja e do papa Francisco não faltam orientações e valores que devem pautar a atuação dos parlamentares católicos.
Dom Ricardo Hoepers afirmou que os parlamentares também devem buscar pautar sua atuação na promoção, defesa e cuidado com a vida da concepção à morte natural e das famílias com a proposição de Políticas Públicas que vão neste sentido.
Dom Guilherme Werlang - O bispo de Lages (SC) e presidente do Grupo de Trabalho Pacto pela Vida e Pelo Brasil da CNBB, dom Guilherme Werlang disse que é urgente, neste momento de crise pelo qual o Brasil atravessa, que as lideranças católicas sejam bússolas éticas para superar os desafios.
- Os parlamentares católicos devem pautar sua atuação na defesa da democracia, no diálogo, na defesa de nossos ecossistemas e biomas. Devemos buscar construir um Pacto pela Vida e pelo Brasil com políticas públicas para mitigar o sofrimento do povo brasileiro”, afirmou.
Aos parlamentares católicos, dom Guilherme, em referência ao papa Francisco, disse que a vida precisa estar acima da Rconomia.
Dom Orani Tempesta - O arcebispo do Rio do Janeiro (RJ), cardeal dom Orani Tempesta destacou elementos do modelo de Igreja que o Papa Francisco tem buscado: “uma Igreja em saída e que busca construir pontes”.
Ele afirmou ser necessário os parlamentares estarem atentos para proporem projetos que terão continuidade. Os projetos, segundo o cardeal, precisam ter em vista a promoção da dignidade das pessoas como trabalho, saúde, entre outras políticas.
Dom José Altevir - O bispo de Cametá (PA), dom José Altevir da Silva (PA) fez um clamor aos parlamentares. De acordo com ele, o povo, sobretudo o povo da região Norte, as comunidades tradicionais e povos indígenas, encontram-se ainda excluídos da possibilidade de uma vida digna.
O bispo apontou que o bioma Amazônico está sendo destruído pelos grandes projetos e empreendimentos econômicos. “Aqui nesta região existe um povo com uma história, com valores e uma cultura. O Brasil assinou tratados internacionais e este povo não está sendo ouvido e nem consultado sobre estes projetos”, disse.
Dom Leonardo Steiner - O arcebispo de Manaus (AM), dom Leonardo Steiner enalteceu a atuação de parlamentares a partir os valores do Evangelho. Os políticos católicos, destacou o arcebispo, devem ser os primeiros a ser os frequentadores da Palavra de Deus, do magistério da Igreja e sua Doutrina Social, do magistério dos Papas e dos vários documentos da CNBB. Estas referências, para dom Leonardo, oferecem valores para o modo de ser e atuar dos parlamentares católicos na esfera política.
O arcebispo afirmou ser necessário que os parlamentares busquem aprovar políticas públicas que atendam aos interesses dos empobrecidos, a partir da escuta dos clamores das comunidades e minorias além de pautar sua atuação pela ética, defesa da democracia e busca do bem comum.
Dom Sérgio da Rocha - O arcebispo de São Salvador (BA), cardeal dom Sergio da Rocha destacou três pontos em sua fala:
- Os parlamentares devem buscar ser testemunhas cristãs no mundo da política, sendo, a partir dos ensinamentos de Jesus, sal da terra e luz do mundo;
- Buscar ser coerentes com a fé professada (celebrada e vivida junto às comunidades), sobretudo orientando-se pela ética na política; e
- Serem testemunhos de comunhão com a Igreja, sua Doutrina Social, o magistério do Papa Francisco, as orientações da CNBB e das Igrejas locais.
Dom Dimas Lara Rezende - O arcebispo de Campo Grande (MS), dom Dimas Lara Rezende ressaltou que os parlamentares católicos devem considerar a política como um serviço aos mais pobres e apostar mais na busca por um projeto de Nação e não de governos. Ele lembrou da lei da Ficha Limpa, conquistada a partir a mobilização da Igreja Católica no Brasil reforçando que os parlamentares devem estar atentos ao combate à corrupção e à busca do bom uso dos recursos públicos.
Dom Giovani Pereira - O bispo de Tocantinópolis (TO) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato da CNBB, dom Giovani Pereira apontou aos parlamentares o desafio de resgatar a dignidade da política.
Falou do esforço que a CNBB, por meio das Pastorais Sociais, da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP) e do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Camara (Cefep), tem feito para oferecer uma formação aos leigos e leigas com vista a atuação na esfera Política e Pública.
Disse que, inspirados pelo papa Francisco, os parlamentares católicos devem primar sua conduta pela busca do diálogo e pela cultura do encontro. Falou também da importância de considerarem as demandas locais e de promoverem a participação social.
Dom Mário da Silva - Neste momento coordenado pelo moderador do dia, o bispo de Roraima (RR) e segundo-vice presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Mário Antônio da Silva, cada um teve um tempo de cinco minutos de fala.
Com os mais de 80 parlamentares brasileiros, de diferentes partidos políticos e níveis de atuação (municipal, estadual e federal), o encontro foi realizado pela Assessoria Política da CNBB desde a quinta-feira (16). Para efeitos didáticos, as respostas foram organizadas não pela ordem da fala mas a partir das perguntas. Confira as falas dos nove parlamentares:
O que os parlamentares esperam da Igreja no exercício de sua missão?
Jorge Pinheiro - O vereador de Fortaleza (CE) Jorge Pinheiro (PSDB) pediu, como filho, que a Igreja seja uma mãe educadora que esteja mais presente incentivando e acolhendo mas também puxando a orelha quando notar que a atuação parlamentar não esteja coerente com os princípios e orientações católicas.
Patrus Ananias - Deputado federal Patrus Ananais (PT/MG) apresentou às lideranças uma questão a partir das preocupações sociais expressadas pelo papa Francisco na Encíclica Fratelli Tutti: como enfrentar o poder do dinheiro e do capital e a deificação do Mercado? Sabemos que a miséria não é vontade de Deus e, por isto, esperamos o enfrentamento deste poder com ações concretas.
Carmem Zanotto - A deputada federal Carmem Zanotto (Cidadania/SC) disse esperar da Igreja um diálogo mais próximo dos parlamentares no exercício de sua missão, mesmo em torno de pautas não convergentes.
Ela ressentiu-se do distanciamento mesmo entre os parlamentares católicos e disse sentir falta das missas no Congresso Nacional, espaço no qual as homilias tinham um papel central de orientar a atuação parlamentar.
Carmen Zanotto (foto) afirmou ser importante continuar realizando encontros como este para refletir como os parlamentares podem estar mais próximos em torno da atuação a partir dos temas e projetos que unem os católicos.
Chico Alencar - O vereador Chico Alencar (Psol-RJ) lembrou que em 1970, à época membro da Juventude Estudantil Católica (JEC), participou de uma assembleia da CNBB na qual conheceu dom Helder Câmara, dom Paulo Evaristo Arns e dom Pedro Casaldáliga.
Ele disse que espera que a Igreja seja Igreja e busque, com os parlamentares, a partilha, a troca e viver em comunidade. Também disse que a missa da CNBB no Congresso era um espaço no qual alimentava a sua espiritualidade para atuar no Congresso.
Chico Alencar afirmou ser insuficiente ser católico apenas do “senso demográfico” ou apenas de ir às missas ao domingo. “Não dá para aceitar o aumento de 23% de compras de arma no Brasil.
- É impossível um cristão defender isto que vai na contramão do princípio de buscar a justiça como caminho para a paz”, destacou Chico Alencar.
Francisco Júnior - O deputado federal Francisco Júnior (PSD-GO) partilhou suas dores e expectativas como parlamentar.
Segundo ele, antes de entrar na Política era visto como “bom moço” mas hoje é como se tivesse um carimbo de “suspeito” na testa.
Francisco Júnior disse entender a política como missão e vocação e espera que a Igreja seja como uma mãe e pastora capaz de apontar os caminhos e referências para a sua atuação baseadas na Doutrina Social mas também de acompanhar os mandatos e chamar a atenção quando está errado mas também incentivar quando há acertos.
Ele afirmou ser importante que a Igreja não fique refém de pessoas e ideologias mas seja um espaço aberto a acolher a todos.
- Que o exercício da Política seja como um ministério a serviço da vida, da família e dos empobrecidos”, frisou Francisco Júnior.
Francelizia da Silva - A vereadora de Itacoatiara (AM), Maria Francelizia da Silva, Itacoatiara (PT), disse compreender que o mandato é uma extensão da atuação pastoral do cristão no espaço político.
Contudo, Francelizia da Silva apontou que sente falta de formação mais efetiva, por meio de Escolas de Formação Política, dos parlamentares e também para despertar nos leigos o desejo de atuação no espaço político. Ela cobrou mais acompanhamento da atuação parlamentar.
Flávio Arns - O senador Flávio Arns (Podemos-PR) disse ser necessário continuar a promoção de encontros entre a Igreja e os parlamentares para aproximação recíproca.
- A gente sempre espera que a Igreja esteja atenta aos fatos pelos quais o Brasil está passando como a necessidade de mais diálogo, a superação das polarizações e também traduzir isto para a vida do povo”, disse.
Segundo ele, a Igreja precisa acompanhar mais de perto os mandatos parlamentares para que possa ampliar as vozes das bases a partir dos desafios de cada região.
Flávio Arns disse ser necessário também a Igreja Católica dar mais visibilidade às várias iniciativas que faz no Brasil a serviço do povo brasileiro (Saúde, Educação e Assistência). Defendeu também ser necessário que a Igreja aproxime-se de outros políticos que atuam a partir de princípios humanísticos mas não necessariamente comungam da mesma fé.
Zenaide Maia - A senadora Zenaide Maia (Pros-RN) disse que a conjuntura pede mais ações de promoção e defesa da fé. Em sua avaliação, a Igreja precisa subsidiar os parlamentares com mais conhecimento. Uma papel que a Igreja pode fazer, em sua avaliação, uma vez que atua com uma grande capilaridade, é ajudar as pessoas a ter uma visão mais crítica da realidade e a compreender que a pobreza não é algo que Deus quer mas é fruto da ação humana e de decisões políticas e governamentais.
Marilene Souza - A deputada estadual pelo PT de Minas Gerais, Marilene Alves de Souza (Leninha) disse perceber a existência de muitos pontos convergentes a partir dos quais a Igreja pode trabalhar para iluminar o caminho e a atuação dos parlamentares no exercício de seus mandatos. Ela disse acreditar que a política é a forma mais perfeita de exercício da caridade.
- A caridade é o caminho mais nobre para transformar as estruturas rumo à política do bem comum e do bem viver para todos, especialmente para os mais empobrecidos”, afirmou Leninha.
Dom Joel - De acordo com o bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ) e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, não se trata de um encontro partidário.
- Buscamos garantir, na medida do possível, a proporcionalidade e a representatividade de diferentes partidos políticos do Brasil”, disse.
Os nomes dos 80 parlamentares, de diferentes níveis e partidos políticos, foram sugeridos pelos 19 regionais da CNBB, pelas comissões episcopais pastorais da CNBB e organismos ligados à Conferência, em função da relação que os parlamentares possuem com essas instâncias.
Origem de encontros desta natureza - Esse encontro tem sua origem na constatação que os bispos latino-americanos fizeram na V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, ou Conferência de Aparecida (SP), realizada de 13 a 31 de maio de 2007.
No número 502 do documento final de Aparecida, os bispos constatam que existe uma “notável ausência, no âmbito político, […] de vozes e iniciativas de líderes católicos de forte personalidade e de vocação abnegada que sejam coerentes com as suas convicções éticas e religiosas.”
Encontros desta natureza, entre lideranças políticas e os bispos, já foram realizados em Bogotá, de 1º a 3 de dezembro de 2017, com 70 participantes de toda a América Latina.
O segundo encontro ocorreu de 10 a 12 de abril de 2019, em Atyrá, no Paraguai, com cerca de 80 participantes, abrangendo os países do Cone Sul. O Brasil esteve representado nos dois eventos com cardeais, bispos, presbíteros, leigos e leigas com atuação na vida pública nacional e local (senadores, deputados e vereadores).
O papa Francisco também é um encorajador dessa aproximação. Ao se dirigir aos participantes no Encontro de Políticos Católicos organizado pelo Conselho Episcopal Latino Americano (CELAM), em Bogotá, de 1 a 3 de dezembro de 2017, ele fez a seguinte afirmação:
- Desejo, antes de mais nada, saudar e agradecer aos dirigentes políticos que aceitaram o convite para participar de um evento que eu mesmo encorajei desde a sua gênese, o encontro dos leigos católicos que assumem responsabilidades políticas a serviço dos povos da América Latina”.
Programação - O 1º Encontro de Parlamentares Católicos a Serviço do Povo Brasileiro teve a seguinte Programação:
Quinta-feira (16 de setembro)
- 8h30 – Abertura da Sala Virtual.
- 9 horas – Ambientação e Oração Inicial.
- 9h10 – Abertura e Acolhida com o presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo; núncio Apostólico no Brasil, dom Giambattista Diquattro; e presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco.
- 9h40 – Comunicação: A “Política Melhor – Fratelli Tutti” com a professora decana da PUC-Rio e teóloga, Maria Clara Bingemer; e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado,
- 10h50 – Oração de encerramento e orientações para o próximo dia
- 11 horas – Encerramento.
Sexta-feira (17 de setembro)
- 9 horas – Ambientação e Oração Inicial.
- 9h10 – Testemunhos em Diálogo – parlamentares e bispos previamente convidados.
- 10h50 – Considerações finais e oração de encerramento com bênção aos parlamentares.
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