O novo Boletim InfoGripe da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) indica que foi interrompida, no Maranhão e no Espírito Santo, a queda do número de casos e de óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) que vinha sendo observada nas últimas semanas.
Os dados semanais apontam que várias regiões do país permanecem na zona de risco, com ocorrência de casos e óbitos muito alta. Feita com base nos registros do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), a análise dos dados, referente à Semana Epidemiológica 14 (4 a 10 de abril), também mostrou que cerca de 90% dos casos positivos de SRAG foram associados à covid-19.
Responsável pelo InfoGripe, o pesquisador Marcelo Gomes explica que, no Maranhão e no Espírito Santo, a interrupção da tendência de queda é acompanhada da formação de um platô com números muito elevados de casos e óbitos por SRAG. “Essa interrupção da queda em patamar elevado é similar a momentos críticos observados em 2020 nesses mesmos Estados”, compara o pesquisador.
Ele destaca que todos os demais Estados conseguiram reverter o forte crescimento do número de casos e óbitos de SRAG observado primeiros meses de 2021, mantendo por algumas semanas a diminuição de novos registros. “Esta queda pode ser atribuída às medidas de distanciamento implementadas em todo o país”, afirma Marcelo Gomes.
Marcelo Gomes ressalta a importância de avaliar estes dados junto à taxa de ocupação hospitalar. Essa análise pode ajudar a entender se existe de fato uma redução na ocorrência de casos de SRAG/covid-19 ou se a queda é aparente, sendo um reflexo do limite de novas internações pela falta de leitos.
Marcelo alerta que a superlotação da rede hospitalar, com formação de lista de espera para disponibilização de leitos, pode gerar subnotificação. Diante disso, é possível que os dados de SRAG notificados no Sivep-Gripe subestimem o total de casos em locais com índice de ocupação de leitos elevado.
- Esses locais com índice de ocupação de leitos elevado devem deixar os indicadores de SRAG em segundo plano em relação à tomada de decisão até que a ocupação volte a diminuir”, destaca o pesquisador Marcelo Gomes.
Ele ressalta que, para o enfretamento da pandemia, é fundamental que as medidas de restrições continuem sendo adotadas.
- Os valores atingidos na fase de crescimento este ano foram extremamente elevados, sendo o pico do número de casos de 2021 superior, em diversos estados, aos picos observados em 2020”, explica Gomes.
- A retomada das atividades de maneira precoce pode justamente levar a um quadro de interrupção da queda ainda em valores muito distantes de um cenário de segurança”, frisa Marcelo Gomes.
Para o pesquisador, se tal situação ocorrer, não apenas manterá o número de hospitalizações e óbitos em patamares elevados, como também vai conservar a taxa de ocupação hospitalar em níveis preocupantes.
- Isso impacta todos os atendimentos, não apenas aqueles relacionadas às síndromes respiratórias e à Covid-19”, explica.
Estados - A análise trazida pelo Boletim mostra que os estados do Amazonas, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Roraima e Santa Catarina apresentam indícios de que também podem estar interrompendo a tendência de queda com valores significativamente elevados de casos e óbitos por SRAG.
- No Amazonas, caso a estabilização seja confirmada, ela se dá em valores acima do pico observado em outubro do ano passado. No Rio Grande do Norte, a estimativa atual está em valores similares ao primeiro (e mais agudo) pico de 2020, enquanto em Roraima a estimativa atual indica apenas pequena redução em relação ao pico de fevereiro de 2021, e acima do pico de final de outubro de 2020”, informa o pesquisador. “Em Santa Catarina, a estimativa aponta para a possibilidade de uma estabilização em valores similares aos dois picos registrados em 2020. Por fim, no estado do Rio Grande do Sul, o intervalo de credibilidade da estimativa atual é superior aos dois picos registrados em 2020”, informa Marcelo Gomes.
Capitais - Nenhuma das 27 capitais brasileiras apresenta sinal de crescimento na tendência de longo prazo (últimas seis semanas) até a Semana 14. Em 20 capitais, foi verificado sinal de queda na tendência nesse mesmo período. As cidades do Rio de Janeiro (RJ), São Luís (MA) e Vitória (ES) mantêm o sinal de estabilidade nas tendências de longo e curto prazo.
Assim como alertado para alguns Estados, a análise observou que algumas capitais podem apresentar interrupção da tendência de queda de número de casos e óbitos. Boa Vista (RR), Florianópolis (SC), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS), Macapá (AP), Manaus (AM), Natal (RN), e Teresina (PI) encontram-se nessa situação. Nos casos de Porto Alegre e Natal, a tendência de curto prazo apresenta também sinal moderado de crescimento, não apenas de estabilidade.
Manaus, embora tenha reduzido significativamente o número de casos e óbitos em relação ao pico observado em janeiro de 2021, apresenta estabilização em valores semanais similares ao pico registrado em outubro de 2020. Em Boa Vista, Fortaleza, Natal e Teresina, a queda está com sinais de interrupção em valores muito acima daqueles observados no platô formado nos últimos meses de 2020, após breve retomada do crescimento em outubro/novembro.
Em Florianópolis, a estimativa atual sugere possível estabilização em valores que podem estar ligeiramente inferiores ao segundo pico de 2020, porém similar ao que se observou no primeiro pico de 2020. Essa situação é similar ao que se observa para Macapá e Porto Alegre, apenas invertendo a relação com os picos de 2020, uma vez que nessas capitais o pico mais alto em 2020 foi o primeiro, não o segundo.
Alerta para aumento de casos de VSR - Foi observado um aumento no número de casos confirmados de Vírus Sincicial Respiratório (VSR), embora, em valores relativos, esses casos representem muito pouco nos totais semanais de casos de SRAG. Foram registrados cerca de 200 novos casos semanais de VSR entre as SE 7 a 12 de 2021 (14 de fevereiro a 27 de março), com um pico de 300 casos confirmados na SE 9. A análise do Boletim também constatou a presença de novos casos confirmados para rinovírus, com uma média de aproximadamente 40 casos semanais em 2021.
Com informações da Agência de Notícias da Fiocruz.
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