O Estado de S. Paulo:
"Uma sequência de queixas ignoradas pelo governo, um acordo costurado de última hora e a radicalização chantagista de uma categoria pararam o Brasil. Desde outubro de 2017, o setor de transportes tem chamado a atenção do Planalto, mas o governo deixou o tema de lado. Quando a negociação foi iniciada, o movimento já era maior que os líderes. Assim, mesmo depois de o governo ceder aos grevistas, vários grupos insistiram em bloquear estradas e tornaram o País refém de seus pleitos. No Planalto, a avaliação é de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) falhou ao não prever o alcance do movimento.
Quando anunciou, na noite de quinta-feira, um acordo com lideranças dos caminhoneiros, em greve desde segunda-feira, o governo imaginava ter conseguido desmobilizar o movimento. Sexta-feira seria um dia de estradas sendo desbloqueadas e o abastecimento começando a se regularizar. Mas não foi o que se viu. Pela manhã, o número de pontos de bloqueio chegou a crescer. Com uma liderança muito difusa, o que se ouvia dos caminhoneiros parados nas estradas era que o acordo fechado com o governo não servia.
O quadro de caos que começou a se formar no início da semana se agravou. Em todo o País, postos de gasolina fecharam, por absoluta falta de combustível. Sem conseguir rodar, ônibus ficaram nas garagens. Sem insumos, fábricas fecharam. Medicamentos e alimentos começam a faltar em farmácias e supermercados. Hospitais chegaram a cancelar cirurgias.
Acuado, o governo resolveu apelar às forças de segurança, que incluem Forças Armadas e a polícia, para desbloquear estradas. “Comunico que acionei as forças federais de segurança para desbloquear as estradas e solicito que os governadores façam o mesmo. Não vamos permitir que população fique sem itens de primeira necessidade, que consumidores fiquem sem produto, que hospitais não funcionem”, afirmou o presidente Michel Temer, em pronunciamento. “Governo teve coragem de dialogar e terá coragem agora de exercer sua autoridade diante do povo.”
Liberação. Depois do anúncio feito pelo governo, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), a principal entidade contrária ao acordo com o governo federal, pediu aos motoristas que liberem as rodovias interditadas. “Preocupada com a segurança dos caminhoneiros envolvidos, a Abcam vem publicamente pedir que retirem as interdições nas rodovias”, disse, em nota distribuída à imprensa. A entidade sugeriu, porém, que continuem as manifestações de forma pacífica, sem obstrução das vias.
Mesmo com a convocação das forças de segurança, ministros admitiram que a diminuição dos bloqueios será lenta e deve continuar nos próximos dias. Dados da Polícia Federal apontavam, ontem à noite, que o País chegou a ter nos últimos dias até 938 interrupções em estradas. Dessas, 419 foram liberadas desde a quinta-feira e restavam 519. Todas as interdições de rodovias são parciais.
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que, após acordo firmado entre o governo e entidades, a paralisação já havia atingido “seus objetivos e foi exitosa”. “O governo negociou, mas governo não pode fugir da responsabilidade que tem de garantir o abastecimento para os brasileiros”, declarou.
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