A Rádio França Internacional (RFI) entrevistou, ontem, o presidenciável Ciro Gomes (PDT). Depois de Paris, Ciro encerra em Portugal uma turnê pela Europa, que passou por Barcelona (Espanha), pela Inglaterra e pela cidade de Montpellier (sul da França).
No Senado francês, em Paris, Ciro comentou a situação política brasileira, marcada, desde quarta-feira (28) à noite, pelo incidente com a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Paraná. “Há uma escalada protofascista no Brasil, animada fundamentalmente na Internet”, avalia Ciro. “Ela é estimulada por alguns quadros da política brasileira. Uma parte relevante da direita brasileira começa a fazê-lo, mesmo sem uma vontade explícita de que isso aconteça”, acredita.
“Parte [da direita] é protofascista mesmo, e outra parte permite isso, veja o exemplo do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que, ao invés de pura e simplesmente condenar [o ataque à caravana de Lula], que é o que se impõe a qualquer democrata, afirmou como primeira reação que o PT está colhendo o que plantou”, pontua. “Nada justifica isso, por mais antagonismo que haja. Eu, por exemplo, tenho muitos antagonismos recentes com parte da burocracia do PT e com parte de seu comportamento estratégico, mas não é razoável aceitar que a bala, a pedra e a violência substituam o argumento no debate político”, diz.
Crime político? - Ciro Gomes afirma que não é possível ainda dizer se [o ataque] foi ou não um crime político. “É preciso que nós não nos antecipemos. O que devemos fazer é pedir pressa e eficácia na apuração. Imediatamente uma fração da direita fala em armação. Não podemos deixar que um fato dessa gravidade, com motivações tão potencialmente graves, tenha sua investigação atrapalhada”, avalia. “Se foi de fato um atentado com intenção ainda que sem sucesso de matar o ex-presidente, temos aí uma coisa absolutamente grave, num país que tem 64.700 homicídios nos últimos doze meses e onde a escalada do crime organizado produz uma impunidade de quase 92%”, reitera o pré-candidato do PDT.
“Na medida em que o banditismo começa a puxar o enfrentamento com o poder político, isso significa um conjunto de ideias e valores. (...) É o crime organizado se sentindo mais empoderado. É preciso exigir que as autoridades apontem e punam os culpados”, sinaliza.
Recrudescimento da violência no país em ano de eleições - Ciro Gomes, no entanto, não acredita que a escalada de violência no Brasil possa adiar o processo eleitoral em 2018. “Evidentemente que a nossa baixíssima tradição democrática e o momento em que estamos, do nosso ponto de vista, sob um golpe de Estado, permitem especulações de toda natureza porque as instituições centrais já foram golpeadas e há uma certa incapacidade das autoridades judiciais do país de impor esta ordem do Estado de direito democrático”, afirma.
“Mas para que isso acontecesse [adiamento das eleições], deveria existir um poder, que não parece existir na nossa realidade contemporânea, capaz de subjugar as regras da Constituição. No passado foi uma interrupção militar, e hoje, diga-se, a bem da verdade, os militares têm se comportado com grande profissionalismo”, analisa.
Lula candidato? - “Pouco importa o que eu defenda [em relação à candidatura de Lula], o ideal para o país é que todos nós pudéssemos nos apresentar, independentemente de nossa linha partidária, e que o grande juiz fosse o povo, depois de um generoso e fraterno debate que nos permitisse ajuizar o grave e complexo problema socioeconômico do país e as formulações de estratégia”, considera Ciro.
“Entretanto há uma lei em vigor no Brasil, a lei da Ficha Limpa. E ela é de uma transparência absoluta, que não permite dubiedade na interpretação. A lei diz pura e simplesmente que o cidadão ou a cidadã, condenados em segundo grau de jurisdição, fica sem o direito de ser candidato(a). Portanto, é flagrante que o Lula não será candidato”, afirma.
Com informações da RFI.
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