Da Agência Brasil
Com balões e mensagens, cerca de 200 ciclistas se concentraram em frente à Biblioteca Nacional, no centro de Brasília, no fim da tarde de hoje (27), para homenagear vítimas da violência do trânsito. “Aqui é um espaço livre, horizontal, para o ciclista vir do jeito que ele quiser. Aqui é um espaço de debate para você falar o que você quiser, como o Raul defendia e fazia”, falou em um megafone um dos participantes, sem se identificar.
O “Raul” em questão era Raul Aragão, ciclista morto após ser atropelado em Brasília no último dia 22, aos 24 anos. O rapaz era ativista da causa e participava de diversos projetos, entre eles o Bike Anjo, voltado a ajudar pessoas com dificuldades para pedalar. Raul foi o homenageado do ato, que seguiu pelas ruas de Brasília até o local do atropelamento, onde uma bicicleta foi colocada para lembrar a vítima e o incidente. As cinzas do ciclista foram despejadas juntamente a uma muda de árvore que foi plantada.
Participando de protesto nacional, ciclistas homenageiam Raul Aragão, voluntário do projeto Bike Anjo, que foi atropelado e morto na semana passada em BrasíliaFabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
A atividade foi uma edição especial da “Bicicletada”, evento que reúne ciclistas para pedalar em diversas cidades. A iniciativa se multiplicou em mais 16 cidades brasileiras, como Aracaju, Campo Grande, Florianópolis, Fortaleza, Manaus e São Paulo. Nesses outros locais, a homenagem foi dedicada a Raul e a outras vítimas do trânsito.
Somente nos últimos dias, dois adolescentes foram atropelados em São Paulo, uma pessoa na Bahia e outra em Fortaleza. Segundo dados do Ministério da Saúde relativos a 2014, 1.357 ciclistas foram mortos em decorrência da violência no trânsito naquele ano. Estatísticas também do MS, mas referentes a 2016, apontaram 11.741 ciclistas internados no Sistema Único de Saúde por esse mesmo tipo de ocorrência.
Velocidade
Uma das reivindicações dos presentes e de organizações do setor é a redução da velocidade média nas cidades. A Organização Mundial da Saúde recomenda que o máximo nas vias urbanas seja de 50 km/h. Segundo Bruno Leite, coordenador da ONG Rodas da Paz, essa mudança traria benefícios não somente aos ciclistas.
“Se houver um acidente, a chance de morte é menor, o motorista tem mais possibilidade de frear. Você aumenta o número de carros na via, vai ter mais pessoas chegando ao ponto de destino no mesmo intervalo de tempo. Esse trânsito com velocidade menor pode ser compartilhado de maneira mais segura”, defende.
Em Brasília, por exemplo, há ruas em que o limite é 80 km/h. A ONG Rodas da Paz e outros movimentos envolvidos com a temática da mobilidade urbana já solicitaram ao Governo do Distrito Federal (GDF) a alteração dos limites, mas ainda não há posição da administração da capital neste sentido.
Em São Paulo, a redução dos limites em determinadas vias gerou polêmicas, sendo defendida por especialistas e organizações da área de mobilidade urbana e questionada por motoristas e pela gestão do prefeito João Dória, que aumentou a velocidade das vias expressas.
Ciclovias
Outra medida importante apontada pelos ativistas é a disponibilização de espaços nas cidades para o trânsito de ciclistas, como ciclovias e ciclofaixas. De acordo com Renata Florentino, pesquisadora do tema e integrante da ONG Rodas da Paz, nenhuma das cidades brasileiras pode ser considerada “ciclável”, termo adotado para os municípios em que pelo menos 25% da sua malha viária são adaptados para esse meio de transporte. “No Brasil, está melhorando bastante, mas há ainda uma disputa do espaço viário, com a resistência de classes mais altas que não querem ciclovias nos seus bairros, como ocorreu em São Paulo”, pontua.
Em Brasília, informa a pesquisadora, há 400 quilômetros de ciclovias, mas essa quantidade corresponde apenas a 3% do total da malha viária. Gabriel Magno, um dos ciclistas presentes ao ato, sofre os efeitos dessa situação diariamente. Da sua casa, no bairro Jardins Mangueiral, até o centro da capita,l são 18 quilômetros. “Para vir para o Plano Piloto [nome dado à região central da cidade], há vários trechos sem ciclovia. Preciso ir para a rua, [pedalar] junto aos carros. E estes momentos são sempre de tensão. Não há espaço reservado, você divide com carro e ônibus. Além disso, há a falta de cultura dos motoristas de conviverem com o diferente na rua”.
Penalização de ciclistas
No mesmo dia em que as bicicletadas tomaram das ruas de 17 cidades brasileiras, foi oficializada a norma do Conselho Nacional de Trânsito regulamentando as punições a pedestres e ciclistas previstas no Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O Artigo 255, por exemplo, define como violação pedalar em uma área não destinada a esse fim.
Na avaliação de Rafael Barros, ativista participante da manifestação em Brasília, em que pese o reconhecimento de deveres de pedestres e ciclistas, é preciso observar as possibilidades de respeito a essas obrigações.
“Não que o ciclista ou que o pedestre não tenha que respeitar a lei de trânsito, mas tem que haver também as condições para que eles façam isso. Em Brasília, por exemplo, temos péssimas calçadas. Como alguém vai caminhar se ela não existe? Se a capital tivesse malha cicloviária bem estruturada, caminháveis, aí faria um pouco mais de sentido”, pondera.
Com balões e mensagens, cerca de 200 ciclistas se concentraram em frente à Biblioteca Nacional, no centro de Brasília, no fim da tarde de hoje (27), para homenagear vítimas da violência do trânsito. “Aqui é um espaço livre, horizontal, para o ciclista vir do jeito que ele quiser. Aqui é um espaço de debate para você falar o que você quiser, como o Raul defendia e fazia”, falou em um megafone um dos participantes, sem se identificar.
O “Raul” em questão era Raul Aragão, ciclista morto após ser atropelado em Brasília no último dia 22, aos 24 anos. O rapaz era ativista da causa e participava de diversos projetos, entre eles o Bike Anjo, voltado a ajudar pessoas com dificuldades para pedalar. Raul foi o homenageado do ato, que seguiu pelas ruas de Brasília até o local do atropelamento, onde uma bicicleta foi colocada para lembrar a vítima e o incidente. As cinzas do ciclista foram despejadas juntamente a uma muda de árvore que foi plantada.
Participando de protesto nacional, ciclistas homenageiam Raul Aragão, voluntário do projeto Bike Anjo, que foi atropelado e morto na semana passada em BrasíliaFabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
A atividade foi uma edição especial da “Bicicletada”, evento que reúne ciclistas para pedalar em diversas cidades. A iniciativa se multiplicou em mais 16 cidades brasileiras, como Aracaju, Campo Grande, Florianópolis, Fortaleza, Manaus e São Paulo. Nesses outros locais, a homenagem foi dedicada a Raul e a outras vítimas do trânsito.
Somente nos últimos dias, dois adolescentes foram atropelados em São Paulo, uma pessoa na Bahia e outra em Fortaleza. Segundo dados do Ministério da Saúde relativos a 2014, 1.357 ciclistas foram mortos em decorrência da violência no trânsito naquele ano. Estatísticas também do MS, mas referentes a 2016, apontaram 11.741 ciclistas internados no Sistema Único de Saúde por esse mesmo tipo de ocorrência.
Velocidade
Uma das reivindicações dos presentes e de organizações do setor é a redução da velocidade média nas cidades. A Organização Mundial da Saúde recomenda que o máximo nas vias urbanas seja de 50 km/h. Segundo Bruno Leite, coordenador da ONG Rodas da Paz, essa mudança traria benefícios não somente aos ciclistas.
“Se houver um acidente, a chance de morte é menor, o motorista tem mais possibilidade de frear. Você aumenta o número de carros na via, vai ter mais pessoas chegando ao ponto de destino no mesmo intervalo de tempo. Esse trânsito com velocidade menor pode ser compartilhado de maneira mais segura”, defende.
Em Brasília, por exemplo, há ruas em que o limite é 80 km/h. A ONG Rodas da Paz e outros movimentos envolvidos com a temática da mobilidade urbana já solicitaram ao Governo do Distrito Federal (GDF) a alteração dos limites, mas ainda não há posição da administração da capital neste sentido.
Em São Paulo, a redução dos limites em determinadas vias gerou polêmicas, sendo defendida por especialistas e organizações da área de mobilidade urbana e questionada por motoristas e pela gestão do prefeito João Dória, que aumentou a velocidade das vias expressas.
Ciclovias
Outra medida importante apontada pelos ativistas é a disponibilização de espaços nas cidades para o trânsito de ciclistas, como ciclovias e ciclofaixas. De acordo com Renata Florentino, pesquisadora do tema e integrante da ONG Rodas da Paz, nenhuma das cidades brasileiras pode ser considerada “ciclável”, termo adotado para os municípios em que pelo menos 25% da sua malha viária são adaptados para esse meio de transporte. “No Brasil, está melhorando bastante, mas há ainda uma disputa do espaço viário, com a resistência de classes mais altas que não querem ciclovias nos seus bairros, como ocorreu em São Paulo”, pontua.
Em Brasília, informa a pesquisadora, há 400 quilômetros de ciclovias, mas essa quantidade corresponde apenas a 3% do total da malha viária. Gabriel Magno, um dos ciclistas presentes ao ato, sofre os efeitos dessa situação diariamente. Da sua casa, no bairro Jardins Mangueiral, até o centro da capita,l são 18 quilômetros. “Para vir para o Plano Piloto [nome dado à região central da cidade], há vários trechos sem ciclovia. Preciso ir para a rua, [pedalar] junto aos carros. E estes momentos são sempre de tensão. Não há espaço reservado, você divide com carro e ônibus. Além disso, há a falta de cultura dos motoristas de conviverem com o diferente na rua”.
Penalização de ciclistas
No mesmo dia em que as bicicletadas tomaram das ruas de 17 cidades brasileiras, foi oficializada a norma do Conselho Nacional de Trânsito regulamentando as punições a pedestres e ciclistas previstas no Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O Artigo 255, por exemplo, define como violação pedalar em uma área não destinada a esse fim.
Na avaliação de Rafael Barros, ativista participante da manifestação em Brasília, em que pese o reconhecimento de deveres de pedestres e ciclistas, é preciso observar as possibilidades de respeito a essas obrigações.
“Não que o ciclista ou que o pedestre não tenha que respeitar a lei de trânsito, mas tem que haver também as condições para que eles façam isso. Em Brasília, por exemplo, temos péssimas calçadas. Como alguém vai caminhar se ela não existe? Se a capital tivesse malha cicloviária bem estruturada, caminháveis, aí faria um pouco mais de sentido”, pondera.
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