A 90 dias de assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) e o do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a ministra Carmen Lúcia afirmou hoje em Fortaleza "não conhecer quem é o juiz brasileiro” ou “ quem é o jurisdicionado brasileiro”. O questionamento da ministra aconteceu durante palestra no 107º Encontro do Conselho dos Tribunais de Justiça, no Gran Marquise Hotel.
"Este é o meu desafio. Eu não sei quem é o juiz brasileiro e não acredito que todos aqui saibam. Como presidir um Conselho, traçar políticas justas, sem saber que é juiz brasileiro? O que ele pensa, qual a faixa de idade? Quantos são? São dezesseis mil, dezessete mil?
Foram duas horas de palestra, onde segundo o presidente do Conselho dos Tribunais de Justiça, Pedro Bittecourt, Carmen L
ú
cia não falou de vazamentos na Operação Lava Jato. "Ela falou de assuntos do Judiciário, mas não falou de vazamentos", afirmou Pedro.
Carmen ao começar a palestra disse que não colocaria a crise brasileira como o momento mais grave de nossa história, "porque toda geração acha que viveu o momento mais grave. Quem era estudante em 1968, quando não podia falar por conta da ditadura vai considerar que aquele er nosso momento mas grave”.
Ela advertiu que todos os servidores públicos são responsáveis em pensar e saber qual de cada um de nós nesse momento da vida nacional.
"Precisamos de mudanças porque a sociedade brasileira está extremamente cansada".
Carmen destacou aos desembargadores que a cidadania saiu às ruas para exigir mais ética e serviço público e, nesse momento, o Judiciário tem se mostrado ser o poder com menos problemas. "Pelo menos em relação ao problema éticos o Judiciário é um dos menos atingidos. Nesse momento parece que o povo brasileiro acredita no Judiciário. E o juiz que passou pelo Eleitoral sabe que eleitor acredita na justiça eleitoral porque chega para votar e o juiz está lá. Por isso é extremamente necessária a presença física do juiz nas comarcas".
Ela defende a humanização da Justiça. Lembrou que em 2016 já ocorreram cinco assassinatos porque o juiz solta o marido agressor e não avisa á esposa. “O marido sai com mais raia do presídio, chega em casa e mata a mulher”.
"Não transfiro responsabilidade que é minha na vida. Precisamos saber que é o juiz brasileiro para sensibiliza-lo para o cargo que ocupa. Somos o 5º. País mais violento do mundo, na questão da violência contra a mulher e ainda não remos respostas, porque ainda tem juiz marcando audiência para 2018 e casos de outros que já realizaram a quarta audiência com o mesmo agressor, dando segmento à impunidade.
A ministra encerrou dizendo que o novo papel do Judiciário é combater a conflituosidade, melhorando a prestação jurisdicional."Eu não quero mudar do Brasil, eu quero, sim, mudar o Brasil, mudar o Judiciário. E como disse o personagem de Guimarães Rosa, o que precisa para o juiz é coragem para mudar e chegar ao país que queremos."
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