"Caros amigos
Cada vez fico mais desiludido e decepcionado com o pequeno grupo de técnicos que desde o advento do Açude Castanhão, em 1985, no cenário cearense assumiu o controle dos recursos hídricos do estado do Ceará. Com esse pensamento escrevi no Diário do Nordeste dois artigos “ÁGUA INESGOTÁVEL” e “TORNEIRAS VAZIAS”, respectivamente, nos dias 01 e 18 do corrente mês de junho. No primeiro, refiro-me à vazão regularizada do Açude Castanhão que diziam aos quatro ventos que era de 30 m3/s, mas com o atual quarto ano de seca, revelou-se não passar de apenas 10 m3/s. Uma triste conclusão e, ao mesmo tempo uma um libelo contra os que defendiam aquele empreendimento. No referido artigo eu disse: ”Todos nós estávamos enganados ou fomos enganados”, referindo-me ao citado reservatório.
No segundo artigo, faço uma discussão em torno da vazão (de água) que é consumida atualmente pela Região Metropolitana de Fortaleza divulgada na imprensa como sendo de 12,35 m3/s constante do editorial do Diário do Nordeste do dia 22/06. Logo passei a discordar deste valor embora, com certeza, aquele jornal tenha colhido tal informação em fontes oficiais do Governo do Estado, mais provavelmente na COGERH. Como é possível que em 1999, quando escrevi o livro “A Face Oculta da Barragem do Castanhão”, o consumo era de 6,5 m3/s e agora, 14 anos depois, tenha passado para 12,5 m3/s, praticamente o dobro? Ter-se a informação correta deste valor, é claro, é indispensável e fundamental para a gestão dos recursos hídricos do estado do Ceará.
Assim, constatei outro lamentável engano daquela Companhia, pois cheguei à conclusão que era, de fato, de apenas 9,00 m3/s. Mas, numa audiência sobre o Reuso da Água para Utilização no Porto do Pecém promovido pela TV Ceará no último dia 10, ouvi uma declaração de um técnico da COGERH, de nome Bruno Rebouças, que é de 8,5 m3/s. Os 4 m3/s, para completar os 12,5 m3/s referidos no editorial do Diário do Nordeste, devem ser os que estão sendo utilizados (e vendidos) ao longo do Canal da Integração mas que, de forma alguma, devem ser contabilizados como se fossem destinados à Região Metropolitana de Fortaleza. Este deve ser o número definitivo. Vale salientar ainda, para que este assunto seja bem entendido, que este valor de 12,35 m3/s também foi citado pelo engº Hypérides Macedo no programa Debates do Povo do dia 3 de junho no qual estava também presente o atual Presidente da COGERH, João Lucio Farias, que, simplesmente, ouviu e calou.
Reafirmo que o correto e indispensável conhecimento desse valor, como disse no citado artigo, tem “grande significado para quem é responsável pela gestão dos recursos hídricos do estado do Ceará”. Assim sendo, chego à clara conclusão que a COGERH nunca fez qualquer gestão dos recursos hídricos do Ceará como está definido no seu próprio nome: “Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará”. Por isso, o Ceará se encontra em caótica e angustiante situação de falta de água em 178 dos seus 184 municípios.
O que aquela Companhia tem feito é vender a água armazenada nos açudes do DNOCS para manter o seu “status quo” institucional, ganhar milhões de reais, sem nenhum esforço, para serem gastos ao seu bel prazer, como quiser. A isso, ela chama de “gestão”. Finalmente, peço a atenção de vocês para o final do meu segundo artigo quando digo: “ O que a CAGECE paga mensalmente à COGERH, ao lado da energia, representam as maiores despesas que incidem na tarifa de água cobrada a seus usuários”. Sejam eles, ricos ou pobres digo eu. O Governo do Estado e a sociedade cearense não podem ficar calados e omissos. E a própria Assembleia Legislativa, através do seu “Conselho de Altos Estudos e Assuntos Estratégicos” deveria vir a público posicionar-se a respeito do prenúncio de uma tragédia em todo o Ceará. Ou este Conselho foi criado somente para promover, à época, os seus integrantes que elaboraram o tal estudo intitulado “Pacto das Águas”? Cássio Borges".
Veículo: Diário do Nordeste Cidade: Fortaleza Editoria: Opinião Coluna: Ideias Jornalista: - Data: 16/06/15 Pág. 2Cm/col: - Tipo de mídia: Impresso
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