- No jornal O Estado de hoje três bons artigos dos jornalistas Luís Sérgio Santos, Demétrio Andrade (Centro Universitário Estácio do Ceará) e Hélder Cordeiro.
A fauna do primeiro turno
- Luís Sérgio Santos - JORNALISTAA pesquisa de intenção de voto em primeiro turno nos dá uma visão bem mais realista da diversidade eleitoral, tanto do ponto de vista do eleitor quanto do ponto de vista dos candidatos e das candidatas.No segundo turno, os eleitores são empurrados ao realinhamento e acabam convergindo para apoiar o nome que mais se aproxima do seu preferido, ou mesmo a votar por exclusão — dos males, o menor. O segundo turno tem um viés plebiscitário. Já o primeiro turno é mais autêntico ao revelar a diversidade da nossa fauna política mesmo daqueles que pontuam pouco na intenção de voto estimulada. Por isso, a candidata Luciana Genro tem razão quando argumenta, em seu horário eleitoral, na defesa do voto não induzido, contra o chamado voto útil.Em todos os candidatos à Presidência da República neste 2014, encontramos ideias interessantes e que ganham amparo junto ao eleitor, mesmo em pequena proporção, mesmo as ideias mais raivosas, as mais utópicas ou as mais reacionárias — seja um reacionarismo de esquerda ou de direita.O grande mérito na pesquisa de intenção de voto, em primeiro turno, é mostrar que tem gosto pra tudo — tem eleitor que vota em todos os candidatos. Mesmo quem lidera a pesquisa, a presidente Dilma Rousseff, tem somente 38% da intenção de voto, como nos informa a pesquisa Ibope/Estado de S. Paulo/TV Globo divulgada na terça-feira, 23.A absoluta maioria dos eleitores vota em outros candidatos e não em Dilma. E tem, ainda, os que não sabem em quem votar ou irão anular o voto. No segundo turno, este cenário se perde, e o que vai prevalecer é a dicotomia eleitoral, o expurgo dos votos nulos e o expurgo dos ausentes. Somente os chamados votos válidos comporão o percentual final — teremos um expurgo significativo nesta composição.E, assim como os eleitores migrarão no segundo turno, os partidos políticos derrotados em primeiro turno também poderão migrar mesmo que por motivos reais não confessáveis. Umberto Eco, o efervescente filósofo italiano, hoje com 82 anos, nos lembra que a democracia é um regime de Governo não perfeito, mas é o menos ruim. Muitos políticos nos governam sem um consenso ou sem uma maioria eleitoral universal já que o que conta são os votos válidos. Mas é assim a regra do jogo: no segundo turno, vale a maioria simples dos votos válidos, ou seja, a metade mais um. Por isso, pregar o não voto ou o voto nulo é estar jogando contra este modelo. Mesmo em uma conjuntura de voto não obrigatório.
- OPINIÃOSexta-feira, 26 de Setembro de 2014Correr para pensarDemétrio Andrade - Jornalista e SociólogoSou adepto das corridas de rua. Devo fazer minha terceira maratona este ano. Fiz várias meias, além de algumas corridas de 10km. Quem corre sabe que, depois que se cria o hábito, é difícil parar. O corpo pede. E é um exercício saudável, que recomendo a quem quer que seja, com o devido acompanhamento médico.Passar horas correndo faz você pensar, procurando ocupar a mente para esquecer o cansaço. Boa oportunidade para traçar paralelos entre situações vividas durante o trajeto e a trajetória traçada por você em sua vida. Reflexões além do suor, revelações além da visão, meditação além do esforço.Aprendi, por exemplo, que não adianta tentar ultrapassar quem tem um ritmo maior que o seu. A princípio, parece possível, a dianteira surge como uma promessa de vitória no horizonte. Algumas centenas de metros depois, a realidade do melhor preparo lhe deixa para trás. Às vezes, inclusive, sem condições de finalizar sua própria meta, por conta de um esforço inesperado imposto ao seu corpo. Assim como no cotidiano, reconhecer limitações e tentar marchar dentro do seu tempo é o que lhe faz vitorioso.Da mesma forma, não adianta, na corrida de rua mais longa, vangloriar-se de qualquer ultrapassagem. Você não sabe de onde aquela pessoa vem, quantos quilômetros ela já correu, quantos obstáculos já ultrapassou. Nem sabe também se ela está feliz simplesmente por cumprir o que lhe era necessário. Na sociedade de consumo, é moda a ansiedade de querer sempre mais. A paz de espírito, porém, chega somente àqueles que sabem o querem e como fazê-lo, a partir da correta distinção entre desejo, necessidade e vontade.A corrida de rua também possui um “ethos” bem peculiar. A competição sempre existe, mas a maioria está ali querendo vencer somente um adversário: a si próprio. A maior briga de quem corre é por superar seus próprios limites de tempo, resistência e extensão. A energia da largada é muito positiva. É possível sentir os participantes felizes por estarem ali, e, o que é raro nos dias de hoje, felizes pelos demais integrantes do certame. Não à toa, é comum testemunhar cenas de incentivo, socorro, preocupação e solidariedade uns com os outros.Esta última característica é maravilhosa. Na chegada, corredores e espectadores se unem para vibrar junto e dar força a quem conseguiu completar sua tarefa. E aí, não importa posição ou condição atlética. Chegar é a maior recompensa. É quando a vitória individual é compartilhada com o coletivo. Assim como, no dia a dia, qualquer um de nós merece palmas por matar tantos e tantos leões.
- Hélder Cordeiro - JORNALISTAAssim como as pessoas afrontam hoje a longividade, impulsionada pelo avanço tecnológico, em todos os ramos de atividades inerentes à vida, muitas empresas também estão neste contexto de perseguição à longa sobrevivência. Claro, quando gerenciadas com seriedade, através das sucessivas gerações, amando e dando continuidade aos projetos preestabelecidos pelos antecessores, e, muito mais, preservando respeito e credibilidade no que faz como testemunha presencial, não somente da sua história de vida, mas do cotidiano contexto social e atual, a exemplo do Jornal O Estado em oito décadas.O Jornal O Estado, fundado em 24 de setembro de 1936 pelas mais expressivas lideranças políticas do Ceará, na época, comandadas por José Martins Rodrigues, combateu e ocupou até hoje longo período, 78 anos, heroico espaço na imprensa cearense. Não foi fácil sobreviver e chegar ao patamar em que está. Ainda não o maior veículo de comunicação diária entre os três existentes no Estado, mas de respeitável credibilidade na informação que divulga sob a responsabilidade da geração sucessora do saudoso jornalista Venelouis Xavier Pereira, um profissional comprometido com a liberdade de imprensa a qualquer custo. Valor democrático que lhe custou perseguição, calúnias e difamações. Porém, soube superar com trabalho e dedicação. Custo que sempre dizia: “pago com sangue, suor e lágrimas”. Frase que lhe imortaliza: “Você jamais será livre sem uma imprensa livre.No início da década de 60, existiam na capital cearense, com circulação diária, aproximadamente dez jornais. Entre eles, O Estado, além dos chamados tabloides e semanários. “O Estado” sobreviveu um longo período de crise política e financeira. Foram exterminados, aproximadamente 80% dos veículos de comunicação. O combatente Venelouis Xavier Pereira foi mortalmente ferido em seu campo de batalha dentro do Jornal O Estado. Na madrugada do dia 16 de setembro de 1996, quando dormia, depois de longa diária, foi inesperadamente surpreendido por um ataque fulminante: enfarto do miocárdio. Não esqueço, alguns dias antes desse óbito, “o meu jornal”, como chamava o amigo-irmão Venelouis seu jornal, O Estado publicou a seguinte manchete: “Estou na UTI”. Artigo de sua lavra jornalística, narrando as mais recentes perseguições”. O Estado continua entre os três últimos jornais que sobreviveram às forças ocultas de triste época.Tentando esquecer o passado de lutas e de vitórias deste combativo Jornal O Estado: falo agora do presente. A geração sucessora de Venelouis, hoje, comandada pela matriarca e presidente Wanda Palhano, com superintendência executiva de Ricardo Palhano, em co-gestão com os demais herdeiros desse patrimônio democrático de comunicação em terra cearense, O Estado permanece vivo, valente e na linha de frente, combatendo ainda os adversários da imprensa livre. Parabéns, e não podemos esquecer: “Você jamais será livre sem uma imprensa livre”.
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