Folha de São Paulo
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, selou um acordo de cessar-fogo com o ex-ministro Ciro Gomes, o integrante do PSB que até agora expressou de forma mais contundente sua discordância com o projeto de Campos de disputar a eleição presidencial do próximo ano.NATUZA NERY
DE BRASÍLIA
Em um longo jantar no Recife no domingo passado, os dois correligionários discutiram suas divergências e fizeram um pacto para só definir no ano que vem se o partido terá ou não um nome próprio na corrida presidencial.
Enquanto o governador de Pernambuco trabalha com a hipótese de concorrer ao Palácio do Planalto, Ciro e seu irmão, o governador do Ceará, Cid Gomes, declaram apoio público à reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Ciro declarou seu apoio a Dilma novamente no jantar no Recife, mas deixou portas abertas para eventualmente rever sua posição no futuro.
Segundo a Folha apurou, os dois combinaram de conversar mais. Campos pediu que Ciro, que foi ministro da Integração Nacional no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de quem foi próximo no passado, lidere no PSB debates sobre a economia e discuta alternativas para tirar o país do ciclo de baixo crescimento.
Na política, os dois reclamaram da dependência de Dilma em relação ao PMDB, o parceiro preferencial da coalizão governista. Essa relação, aliás, sempre foi criticada pelo cearense.
Ambos conversaram a sós e "desarmados", conforme definiu um integrante da legenda. E Ciro não apresentou resistência a um possível desembarque da Esplanada. Segundo relatos, ele repetiu uma tese antiga: o PSB pode ajudar na governabilidade sem cargos no governo.
Um acordo de paz, mesmo que transitório, é positivo para o pernambucano. Primeiro, porque ajuda a afrouxar a tensão interna no PSB. Segundo, porque tira o correligionário do grupo que expõe, de maneira crítica, divisões internas. Ciro é conhecido pelo estilo mordaz de falar.
A conversa de domingo, até pouco tempo atrás considerada improvável, ocorre num momento em que governadores do partido e o próprio ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, indicado por Campos para o governo, expressam apoio à reeleição de Dilma.
O jantar no Recife ocorreu por iniciativa do pernambucano, após um emissário telefonar para sondar se haveria consentimento de Ciro Gomes. Minutos depois, o convite foi formalizado.
A distância entre os dois ficou nítida em 2010, quando Ciro teve sua candidatura à Presidência retirada pelo PSB. Na ocasião, a sigla preferiu ficar com a candidata indicada pelo presidente Lula. Hoje é Campos quem ensaia voo solo e enfrenta a resistência dos irmãos Gomes.
INCÔMODO
Enquanto se esforçam para aliviar as tensões internas, defensores da candidatura de Eduardo Campos não escondem o incômodo com o que chamam de "governismo" do vice-presidente nacional da legenda, Roberto Amaral.
O mal-estar começou em fevereiro, quando o dirigente foi à festa de 10 anos do PT e fez elogios ao governo federal num discurso. Depois, intensificou-se em março, após o dirigente confirmar presença em outra festa petista, no Ceará, terreno considerado inimigo naquele momento.
A reação foi tão forte que Amaral cancelou a viagem. Mas as queixas persistiram. Aliados de Campos dizem que o vice tem feito restrições a uma chapa para 2014 que não seja puramente de esquerda, o que inviabilizaria a formação de uma aliança competitiva, com mais tempo de TV.
"Sou a favor da candidatura própria e o nome que unifica é o de Eduardo", disse Amaral à Folha. "Não ajuda nada meu partido ficar remexendo essas coisas. Sou o mais entusiasta da candidatura própria."
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