Luiz Gonzaga Bertelli*
Tome um grupo de cem brasileiros entre 15 e 64 anos. Desses, apenas 26% dominam plenamente o uso da língua portuguesa – capazes de ler e interpretar textos mais complexos – e a realização de cálculos matemáticos básicos. O restante do grupo se divide entre aqueles que possuem conhecimentos básicos (47%), rudimentares (21%) e analfabetos (6%). A preocupante constatação do baixo percentual de brasileiros plenamente aptos surge do Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf), publicado pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa.
De acordo com os técnicos que coordenaram a pesquisa, apenas quem tem o pleno domínio dessas duas habilidades atende a condição imprescindível para a inserção plena na sociedade letrada. Ou seja, da população brasileira, nada menos do que 145 milhões de pessoas não têm condições de participar como cidadãos ativos. Isso porque a falta da educação básica é o motor de um círculo vicioso de exclusão social e baixa qualificação profissional. Somente quem está preso nele sabe o quão frustrante é a vida de um analfabeto. Os outros podem apenas imaginar...
Nos últimos 15 anos, o CIEE fez parte da história de vida de 52 mil brasileiros que conseguiram entrar para aquele grupo dos alfabetizados, beneficiados pelo Programa de Alfabetização e Suplência Gratuita para Adultos – iniciativa que integra a ampla série de ações de assistência social, de cunho educacional e formação integral, desenvolvida pela instituição. Aliás, na última quarta-feira, realizou a última formatura de 2012, quando diplomou mais uma nova turma de alunos dos cursos de alfabetização e suplência dos ensinos fundamental e médio, na capital paulista. Desse seleto grupo vem a história de Aparecido Andrade da Silva, de 38 anos, que perdeu o pai cedo e a mãe não podia sustentar sozinha seus sete irmãos: teve de abrir mão da escola para garantir o sustento da casa. Migrante em São Paulo, somente notou o que estava perdendo por não saber ler e nem escrever quando certa vez, desempregado, acertou todos os detalhes com um encarregado para assumir um trabalho em Barueri. Somente ao chegar lá descobriu que parte do processo de admissão consistia no preenchimento de uma ficha. Atualmente cursa o 2º e 3º ano do ensino fundamental no programa do CIEE e diz ter força de vontade de seguir até o fim do ensino médio.
Como se percebe, trata-se de pessoas que, mesmo com vontade de mudar de vida, não conseguem combater as desigualdades sociais por já sair em desvantagem até mesmo quando buscam uma vaga de menor qualificação no mercado de trabalho. Para elas, a experiência mostra, muitas vezes um apoio adicional basta para que comecem a trilhar o caminho do conhecimento e alimentar esperança de um futuro melhor.
* Luiz Gonzaga Bertelli é presidente Executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), da Academia Paulista de História (APH) e diretor da Fiesp.
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