ROGER MARZOCHI - Agência Estado
Já pensou se Bono Vox e seus companheiros de banda promovessem um workshop, no qual fosse possível ouvir da boca do vocalista sobre as raízes de sua música e, de quebra, tocar com a banda? O que é apenas sonho para o fã no mundo pop, é uma realidade para quem gosta de jazz, devidamente temperado por ritmos brasileiros. Para esse público, Carlos Malta é tão importante quanto o vocalista do U2. E, em fevereiro, dá início a uma série de shows e oficinas pelo País tanto para apresentar o disco "Tudo Azul", lançado no ano passado, como para falar sobre as origens do samba, da bossa, do baião e do choro.
"Quando eu abro a ''caixa preta'', quando falo da música, é para falar na mesma língua do público. E é uma experiência que pode mudar a vida de uma pessoa. Minha intenção é que o cara saía do workshop e vá direto para uma loja comprar um instrumento musical. Se isso acontecer, pra mim, será o sucesso absoluto", diz, em entrevista por telefone à Agência Estado.
Nos dias 25 e 26 de fevereiro, à noite, o Carlos Malta Quarteto fará show no Sesc Pinheiros. E, no dia 26, das 14h às 16h, ocorrerá a primeira oficina "Diversidade da Música Brasileira", cujas inscrições tiveram início no dia 1º. Outras serão realizadas em Presidente Prudente, em um acordo entre o Sesc e a Secretaria de Cultura da cidade. E, com patrocínio da Petrobras, haverá ainda uma turnê pelo Norte e Nordeste, com shows e oficinas em Rio Branco, Manaus, Belém, Fortaleza, Natal e Teresina.
Foi uma aula de flauta doce na escola, quando tinha uns sete anos, que mudou a vida de Malta, hoje maestro e multiinstrumentista, com passagens pela banda de Hermeto Pascoal, cuja convivência amplificou sua percepção da música viva em tudo e todos. Não é à toa que é chamado de "Escultor do Vento". Seja no sax, na flauta, pife ou clarone. Este último, aliás, um instrumento muito restrito à música erudita, foi veículo de forte tensão a quem ouviu os solos da música "Soul Sin/Sou Sim", do novo disco, em show em dezembro, no Jazz nos Fundos, em São Paulo.
Malta fez esse tema como uma resposta ao contrabaixo de "So What", de Miles Davis. Mas foi muito além. "Aquele instrumento (clarone) faz muito bem à alma. O clarone, como instrumento de orquestra, é muito comportado. Aí quando você pega o instrumento como um aborígene - e minha relação com o instrumento é essa - aí é a intuição se servindo de um conhecimento técnico. É um voo completamente radical." E a resposta a Miles, na verdade, é que Malta é sim O Cara, e aí?
Mesmo se o público das oficinas não se motivar a fazer música, um evento assim é importante para formar plateia e ampliar o espaço da música instrumental. Além de Malta, estarão no palco-escola o contrabaixista Guy Sasso, o baterista Richard Montano e o pianista Daniel Grajew. "Vamos falar, por exemplo, de onde vem o baião. Qual o tipo de material étnico do qual os ritmos são compostos? A maioria das coisas que a gente toca tem um centro rítmico que inspira a parada."
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