Raquel conviveu com o problema durante 19 anos. Aos dez anos, quando teve cachumba(popularmente conhecida como papeira), começou a sentir perda na audição, atingindo os dois ouvidos. Durante um bom período usou aparelho auditivo, mas somente depois do implante coclear, em 2007, em Natal, pode voltar a ouvir, se comunicar melhor com as pessoas, redescobrir o som das coisas. De tudo, enfim. Inclusive, teve o prazer de voltar a estudar. Hoje, está no último semestre do curso superior de Gestão de Recursos Humanos, já trabalha no setor pessoal de uma empresa e diz torcer muito para outras pessoas serem beneficiadas com o implante coclear. “O implante representa pra mim um progresso muito grande. Minha vida mudou”. Confessa estar mais segura, mais confiante, com muitos planos pela frente. Diz que gostaria de passar tudo isso(de bom) para os pacientes que aguardam a cirurgia, que agora passará a ser realizada no Ceará. Raquel vivia triste, não conseguia compreender o que as pessoas falavam e não chegou a aprender a linguagem dos sinais. A comunicação era muito difícil. Mas hoje, coisas que para os outros são tão simples, para ela são motivo de muita alegria. Atender ao telefone, interagir com os colegas, amigos e familiares. Um novo mundo se abriu para Raquel depois do impante coclear.
Raquel precisou sair do Estado para ter acesso ao implante coclear. Mas a partir de agora, o Ceará também opera pacientes para que (re)descubram o inédito prazer da audição. Nesta sexta-feira, 30, o Hospital Geral de Fortaleza, HGF, vai realizar o primeiro implante coclear do Estado pelo SUS. No mesmo dia, serão realizadas duas cirurgias. Uma criança de 3 anos, Carlos Samuel, de Jucás, e Nicole, de 7 anos, de Horizonte.
Sílvia, mãe de Samuel, está ansiosa. Afinal, a vida dele vai ganhar um novo sentido. “A gente fica com o coração na mão, mas eu confio em Deus e nos médicos que vão operar meu filho. Sei que vai dar certo.” Sílvia percebeu que Samuel não escutava quando ele tinha apenas meses de vida. No berço, quando chorava, só se acalmava quando via a mãe. Se ela falava de longe, as palavras se dissipavam no ar, sem serem percebidas por ele. Este ano, ele começou a usar um aparelho amplificador. Os sons começaram a chegar, mas ainda de forma insuficiente. Samuel até começou a aprender a linguagem dos sinais. Com a mãe, se comunica por gestos, olhares. Agora, tudo vai mudar. “Vai ser uma nova descoberta na vida dele e na nossa.”
Nicole, de 7 anos, que também nasceu com deficiência auditiva, já sabe até o que quer ouvir primeiro. É o Pica-pau. O personagem do desenho animado que ela adora ver mas nunca ouviu. A mãe Francineide conta que há cerca de 4 anos, Nicole usa o aparelho amplificador, e que há um ano, tenta conseguir o implante para a filha em Natal. Agora, que a cirurgia vai pasar a ser feita aqui em Fortaleza, Nicole não vai mais ter que esperar. “Vai ser uma grande vitória pra ela e pra mim também.”
O HGF foi credenciado pelo Ministério da Saúde para realizar cirurgias para implante coclear em dezembro do ano passado. A expectativa é de que sejam realizadas 24 cirurgias por ano. Um investimento de cerca de um milhão de reais. Cerca de noventa pacientes já estão cadastrados para passar pelo procedimento, indicado quando a prótese amplificadora já não ajuda.
O implante coclear é realizado pelo SUS desde 2000 e o Ministério da Saúde investe R$ 45,8 mil para o atendimento de cada paciente. O Sistema Único de Saúde (SUS) fornece o ouvido biônico, uma prótese que é implantada por meio de cirurgia no ouvido de pacientes com deficiência auditiva. O equipamento auxilia o cérebro a interpretar os estímulos sonoros, devolvendo o sentido ao paciente. Já há 17 unidades de saúde com capacidade para realizar o procedimento. Elas estão no Distrito Federal e nos estados da Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, São Paulo, Minas Gerais, Ceará e Rio de Janeiro, credenciado este ano.
Em 2009, foram feitos 479 implantes na rede pública, com um investimento de mais de R$ 21 milhões só naquele ano. No total, o SUS já realizou 2.166 cirurgias de 2000 até outubro de 2009. Além do custeio da cirurgia, o valor repassado para as unidades inclui o preparo do paciente (com testes de próteses auditivas e avaliação de um fonoaudiólogo) e a reabilitação. Esse processo é essencial porque o paciente precisa aprender a utilizar o equipamento no dia a dia. As unidades habilitadas pelo Ministério da Saúde devem cumprir uma série de requisitos que garantem o acompanhamento do paciente durante todo o processo, desde o preparo para a cirurgia até a reabilitação.
Um ouvido artificial - O implante coclear é um equipamento computadorizado colocado dentro da cóclea, na parte interna do ouvido. Ele capta os sons e os transforma em sinal elétrico, que é interpretado no cérebro como estímulo sonoro. Além do dispositivo, o aparelho é composto por um processador de fala que fica fora do ouvido. É como se fosse um microfone captando o som do ambiente. O funcionamento do implante coclear é diferente do Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI), uma vez que ele cria a possibilidade de o usuário perceber o som em vez de só aumentá-lo.
Raquel hoje ouve e fala com propriedade. É o som quem dá o tom das emoções. Nicole e Samuel vão poder descobir isso também. E na semana que vem, outros dois pacientes vão passar pela mesma cirurgia e logo poderão descobrir uma infinidade de barulhos que tornam o mundo mais vivo, mais emocionante.
Mais informações:
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Gilda Barroso, jornalista - (85) 9925-5762
Luisa Nascimento, jornalista – (85) 9206-7521
Outras informações:
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