Murdoch briga por conteúdo pago
Cobrança por acesso a notícias na internet vira guerra ideológica contra dono do 'Guardian'
Eric Pfanner
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THE NEW YORK TIMES
Bem-vindo à mais animada luta em Fleet Street. No canto azul do ringue, Rupert Murdoch, diretor executivo da News Corp. No vermelho, Alan Rusbridger, editor do The Guardian. Cada um querendo nocautear a visão do outro sobre o futuro do jornalismo. No jornal impresso, não existe concorrência. Murdoch é o peso pesado campeão do mundo da mídia; um lutador antigo cujos prêmios incluem jornais como The Sun, The Times, de Londres, The Wall Street Journal e o The New York Post. Rusbridger é relativamente um peso pena, uma espécie de Harry Potter que dirige uma única publicação modesta.
Mas jornal impresso é coisa do passado. Essa disputa é pelo ciberespaço. E quando Murdoch ou os seus jornais estão envolvidos, Rusbridger não está recuando. Ele causou o primeiro sangue derramado no presente assalto, que se centraliza na questão se os websites de um jornal devem cobrar dos seus leitores: Murdoch diz sim, Rusbridger diz não.
Tendo "reduzido brutalmente o preço dos seus jornais, que são vendidos abaixo do custo, para conquistar mais público ou rechaçar a concorrência", Rusbridger, num recente discurso, disse que "esse mesmo Rupert Murdoch está sendo enfático demais, quando afirma que o leitor tem de pagar um valor adequado pelo conteúdo ? impresso ou digital".
Segundo o editor inglês, o chamado "pay wall" (barreira que só pode ser passada mediante pagamento) seria uma péssima ideia para o jornalismo do The Guardian, que tem se beneficiado do livre intercâmbio de ideias na internet, e também para a sua empresa, que espera converter o crescimento da sua tiragem em receitas de publicidade maiores. Os jornais que desafiarem essas tendências, disse, correm o risco de "cair no esquecimento".
Até recentemente, com a taxa de crescimento da propaganda online alcançando os dois dígitos e as receitas do jornal impresso em declínio, a posição de Rusbridger reflete a opinião predominante no setor jornalístico. Mas esse crescimento da publicidade na internet estancou durante a recessão, levando muitas editoras de jornais e revistas a repensar seus modelos de negócios. Murdoch pretende começar a cobrar pelo acesso aos sites dos jornais da News Corp ainda este ano. Um deles, aliás, o The Wall Street Journal já cobra.
A News Corp não está sozinha. O The New York Times, proprietário do International Herald Tribune, já disse que começará a cobrar dos leitores em 2011, usando um sistema que oferecerá um número limitado de artigos gratuitos. Editoras como a Axel Springer, na Alemanha, também planejam oferecer conteúdo digital pago.
Mas Murdoch tem sido o mais direto proponente da cobrança, e respondeu aos jabs do seu competidor com um direto no queixo. Durante uma teleconferência na semana passada sobre os lucros da News Corp, ao ser indagado sobre o que pensava da posição de Rusbridger, ele respondeu com um palavrão.
Se Murdoch e Rusbridger são os lados opostos de uma divisão ideológica, isso ocorre em parte por causa das profundas diferenças nas empresas que ambos dirigem. O The Guardian é de propriedade de uma sociedade não lucrativa, e Rusbridger admitiu que tem tido prejuízo. A News Corp está atenta aos seus acionistas, mesmo se algumas das suas publicações, como o The Times, não sejam lucrativas.
Essa divisão vai além. Murdoch claramente não dá a mínima para a marca de liberalismo representada por Rusbridger e o Guardian. Numa biografia recente, o jornalista americano Michael Wolff disse que Murdoch qualificou Rusbridger de "doido" numa entrevista. O jornal de Rusbridger, entretanto, não perde a oportunidade para lançar um ataque contra Murdoch. No verão passado (no hemisfério norte) o jornal publicou uma série de reportagens de capa em que se afirmava que um tabloide da News Corp, The News of the World, tinha grampeado telefones de celebridades e autoridades britânicas.
Segundo a News Corp, o The Guardian tinha desenterrado uma antiga matéria e que o tabloide já admitira ter acessado ilegalmente alguns telefones celulares. No entanto, Rusbridger e Murdoch podem não estar tão afastados quando debatem sobre o que deve ser pago ou gratuito. O The Guardian já cobra por uma aplicação do iPhone. Por outro lado, parece improvável que Murdoch vá erigir um paredão blindado protegendo os websites dos seus jornais. O mais certo é que parte do conteúdo continuará grátis, com os serviços pagos abrangendo ofertas de outros parceiros ou websites da News Corp. Mas a luta entre os dois vai continuar nos entretendo.
Tradução de Terezinha Martino
Bem-vindo à mais animada luta em Fleet Street. No canto azul do ringue, Rupert Murdoch, diretor executivo da News Corp. No vermelho, Alan Rusbridger, editor do The Guardian. Cada um querendo nocautear a visão do outro sobre o futuro do jornalismo. No jornal impresso, não existe concorrência. Murdoch é o peso pesado campeão do mundo da mídia; um lutador antigo cujos prêmios incluem jornais como The Sun, The Times, de Londres, The Wall Street Journal e o The New York Post. Rusbridger é relativamente um peso pena, uma espécie de Harry Potter que dirige uma única publicação modesta.
Mas jornal impresso é coisa do passado. Essa disputa é pelo ciberespaço. E quando Murdoch ou os seus jornais estão envolvidos, Rusbridger não está recuando. Ele causou o primeiro sangue derramado no presente assalto, que se centraliza na questão se os websites de um jornal devem cobrar dos seus leitores: Murdoch diz sim, Rusbridger diz não.
Tendo "reduzido brutalmente o preço dos seus jornais, que são vendidos abaixo do custo, para conquistar mais público ou rechaçar a concorrência", Rusbridger, num recente discurso, disse que "esse mesmo Rupert Murdoch está sendo enfático demais, quando afirma que o leitor tem de pagar um valor adequado pelo conteúdo ? impresso ou digital".
Segundo o editor inglês, o chamado "pay wall" (barreira que só pode ser passada mediante pagamento) seria uma péssima ideia para o jornalismo do The Guardian, que tem se beneficiado do livre intercâmbio de ideias na internet, e também para a sua empresa, que espera converter o crescimento da sua tiragem em receitas de publicidade maiores. Os jornais que desafiarem essas tendências, disse, correm o risco de "cair no esquecimento".
Até recentemente, com a taxa de crescimento da propaganda online alcançando os dois dígitos e as receitas do jornal impresso em declínio, a posição de Rusbridger reflete a opinião predominante no setor jornalístico. Mas esse crescimento da publicidade na internet estancou durante a recessão, levando muitas editoras de jornais e revistas a repensar seus modelos de negócios. Murdoch pretende começar a cobrar pelo acesso aos sites dos jornais da News Corp ainda este ano. Um deles, aliás, o The Wall Street Journal já cobra.
A News Corp não está sozinha. O The New York Times, proprietário do International Herald Tribune, já disse que começará a cobrar dos leitores em 2011, usando um sistema que oferecerá um número limitado de artigos gratuitos. Editoras como a Axel Springer, na Alemanha, também planejam oferecer conteúdo digital pago.
Mas Murdoch tem sido o mais direto proponente da cobrança, e respondeu aos jabs do seu competidor com um direto no queixo. Durante uma teleconferência na semana passada sobre os lucros da News Corp, ao ser indagado sobre o que pensava da posição de Rusbridger, ele respondeu com um palavrão.
Se Murdoch e Rusbridger são os lados opostos de uma divisão ideológica, isso ocorre em parte por causa das profundas diferenças nas empresas que ambos dirigem. O The Guardian é de propriedade de uma sociedade não lucrativa, e Rusbridger admitiu que tem tido prejuízo. A News Corp está atenta aos seus acionistas, mesmo se algumas das suas publicações, como o The Times, não sejam lucrativas.
Essa divisão vai além. Murdoch claramente não dá a mínima para a marca de liberalismo representada por Rusbridger e o Guardian. Numa biografia recente, o jornalista americano Michael Wolff disse que Murdoch qualificou Rusbridger de "doido" numa entrevista. O jornal de Rusbridger, entretanto, não perde a oportunidade para lançar um ataque contra Murdoch. No verão passado (no hemisfério norte) o jornal publicou uma série de reportagens de capa em que se afirmava que um tabloide da News Corp, The News of the World, tinha grampeado telefones de celebridades e autoridades britânicas.
Segundo a News Corp, o The Guardian tinha desenterrado uma antiga matéria e que o tabloide já admitira ter acessado ilegalmente alguns telefones celulares. No entanto, Rusbridger e Murdoch podem não estar tão afastados quando debatem sobre o que deve ser pago ou gratuito. O The Guardian já cobra por uma aplicação do iPhone. Por outro lado, parece improvável que Murdoch vá erigir um paredão blindado protegendo os websites dos seus jornais. O mais certo é que parte do conteúdo continuará grátis, com os serviços pagos abrangendo ofertas de outros parceiros ou websites da News Corp. Mas a luta entre os dois vai continuar nos entretendo.
Tradução de Terezinha Martino
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